quarta-feira, 31 de agosto de 2005

REGRESSO ÀS AULAS

Abriu um pouco por todo o tipo de estabelecimentos comerciais a campanha de regresso às aulas. Aproxima-se a data de início de mais um ano lectivo (a semana de 12 a 16 de Setembro) e as famílias preparam-se para fazer face a mais esta despesa adicional. A crer nas notícias hoje publicadas no Portugal Diário este será o ano lectivo mais caro de sempre, facto prontamente contrariado no corpo doutra notícia do mesmo órgão, segundo o qual o preço dos manuais escolares desceu.

Mais importante que esta polémica, que se traduz apenas em dois pontos de vista sobre o mesmo problema, porquanto uns estarão, e bem, a contabilizar o conjunto de material a adquirir enquanto a APEL-Associação Portuguesa de Editores e Livreiros vem defender que o preço dos manuais escolares se encontra sem alteração desde 2004.

Independentemente dos cálculos efectuados para a estimativa de um valor médio de 350€ por aluno (estimativa que aponta para 150€ por aluno para o 1º ano de escolaridade e atinge os 700€ por aluno para o 12º ano) parece-me francamente mais importante que se debatam e reflictam sobre dois conceitos básicos:

Primeiro, se os nossos governos continuam a referir-se aos nove primeiros anos de escolaridade como obrigatórios, parece-me que seria da mais elementar justiça que os custos básicos com essa formação fossem nulos ou, quanto muito, irrisórios. Se é certo que assim acontece com o montante de propina pago, já no caso dos manuais escolares parece-me que deveria ser exigido igual tratamento.

Segundo, admitindo como válido o argumento de que o Estado, pobrezinho, não dispõe de meios para financiar a aquisição de manuais escolares para os alunos que obriga a frequentar o ensino, então, deveria ser radicalmente alterada a forma como estes são produzidos, bem como o processo de escolha dos manuais adoptados por cada agrupamento escolar ou estabelecimento de ensino.

Quero com isto chamar a atenção para a introdução da prática da escrita (resolução de exercícios e jogos) no próprio manual escolar, facto que inviabiliza a sua automática reutilização, mesmo que no ano lectivo seguinte a escolha da escola venha a recair no mesmo manual (no absurdo, um aluno retido pode ter que voltar a adquirir o mesmo manual no ano seguinte).

Todo este “sistema” montado em torno do negócio da venda de livros escolares (sim, porque já começa a constatar-se a existência de mecanismos de aliciamento de professores por parte de algumas editoras) mais não revela que o oportunismo de uns quantos com a cobertura ou o beneplácito dos poderes instituídos (Governo, Ministério da Educação e Conselhos Executivos das Escolas).

Se existisse uma efectiva preocupação dos nossos governantes (actuais e anteriores) quanto à efectiva formação dos jovens e um cuidado acrescido em que este processo não se convertesse num acréscimo de encargos para as respectivas famílias (quiçá primeiro passo para o abandono escolar que tanto dizem querer combater), não sendo possível a desejada oferta dos manuais, no mínimo deveriam ser criadas condições para aumentar o seu tempo de uso útil (permitindo às famílias a sua reutilização) e fomentar a criação de um mercado de manuais usados que contribuísse para reduzir os respectivos custos.

terça-feira, 30 de agosto de 2005

GOVERNÂNCIA E CORRUPÇÃO

Vem isto a propósito de um artigo publicado no último Boletim do FMI (Fundo Monetário Internacional) por Daniel Kaufmann, director do Banco Mundial.

Nesse texto, intitulado “Back to Basics—10 Myths About Governance and Corruption” o autor debruça-se sobre o tema concluindo que uma das questões essenciais para o desenvolvimento passa pelo combate à corrupção e pela melhoria nos sistemas de governância dos países.

Alguns meios de comunicação nacional, nomeadamente o Diário Económico, o Público e o Portugal Diário, fizeram pronto eco do texto ou da parte onde o autor refere que a diminuição da corrupção em Portugal poderia colocar o rendimento per capita nacional ao nível do da Finlândia.
No artigo o autor não especifica quais os indicadores utilizados pelo Banco Mundial que conduziram a este tipo de conclusões, refere apenas a construção de uma agregado de indicadores cobrindo mais de 200 países e composto por mais de 350 variáveis, mas não deixa de ser importante que alguém com a credibilidade de um director do Banco Mundial venha dizer algo que, de forma empírica, muita gente já constatou no nosso país – a capacidade e vontade dos nossos sucessivos governantes para a resolução dos problemas centrais da governação é inversamente proporcional à importância do lugar que ocupam (todos, quando na oposição, são excelentes a apresentar soluções) e às promessas eleitorais.

Sim, porque a necessidade imperiosa de combater a corrupção e a ineficácia (e no nosso país ela grassa a quase todos os níveis) só é realizável por um executivo que apresente reais capacidades de governância, entendendo-se esta pelo exercício da autoridade que tem em vista o bem comum. Quem não recorda de imediato os muitos casos de ligações muito pouco claras entre titulares de diversos cargos públicos com sectores económicos que continuam por esclarecer? E dos tão falados casos de ligações demasiado próximas (há mesmo quem não tenha pejo em as referir como promíscuas) entre dirigentes políticos, autárquicos e desportivos?

Mais importante que sonhar com níveis de rendimento iguais ao da Finlândia (para os que o quiserem fazer ou tenham curiosidade aqui fica um “link” para a respectiva página do INE) importa reter que em termos de PIB per capita somos o pior colocado dos países da Europa dos 15, o 17º na Europa dos 25, atrás do Chipre e da Eslovénia e que as projecções para 2006 já nos colocam em 18º lugar. No conjunto dos 25 países da CE o nosso PIB per capita representa pouco mais de 70% do valor médio e esta percentagem desce para cerca de 60% no conjunto da Europa dos 15.

Deixando de lado a questão da grandeza da variação do PIB nacional, é perfeitamente entendível por qualquer pessoa que boa parte do nosso “trabalho” se esvai num sistema onde prolifera toda uma série de “esquemas” conducentes à resolução dos problemas de “alguns”e que é mais do que tempo de dizer basta!

Para quando, e as próximas eleições autárquicas serão uma primeira e excelente oportunidade, deixaremos de (re)conduzir a posições de influência pessoas sobre as quais conhecemos penderem sérias e fundadas dúvidas quanto à sua honestidade e capacidade de exercício isento dos cargos?
Quando passaremos as escolher os nossos autarcas e demais governantes, não com base nas “cores partidárias”, nem nas fáceis promessas eleitorais mas sim nas capacidades técnicas, profissionais e éticas que lhes reconheçamos?
Quando faremos sentir a todos quantos continuam a procurar atirar-nos poeira para os olhos com o princípio da inocência até prova em contrário (sabedores que são dos meandros e lentidão da justiça portuguesa), para se alcandorarem a posições de inimputabilidade, que o seu tempo terminou?

segunda-feira, 29 de agosto de 2005

O PREÇO DOS COMBUSTÍVEIS. FATALIDADE, INEVITABILIDADE OU INTENCIONALIDADE?

«O preço do litro do gasóleo ultrapassou ontem um euro nas bombas da Galp, depois de as principais petrolíferas a operar em Portugal terem decidido aumentar novamente os preços dos combustíveis. A sobrevalorização recente do petróleo está na origem destes aumentos, explicam as petrolíferas.», noticiou no dia 19 de Agosto o Diário de Notícias que concluía: «Estes aumentos surgem depois de quatro sessões de desvalorizações do petróleo, que ontem estava a ser negociado a 62,50 dólares em Londres, a praça de referência para os europeus. Em Nova Iorque, o crude valia 63,39 dólares, mas chegou a ser negociado a meio da sessão a 62,25 dólares devido à especulação de que a escalada dos preços estava já a afectar a procura de petróleo. No final da sessão, os preços nos EUA subiram ligeiramente, devido a uma correcção técnica proporcionada pela forte venda de contratos de crude

Desde o choque petrolífero em 1974 que as economias ocidentais têm vindo a (con)viver com o fenómeno de regulares alterações (subidas) no preço do “crude”; habituámo-nos a ver alternar períodos de aumento com outros de descida dos preços e a fixar patamares de crescimento em função das expectativas dessas variações.

Especialistas internacionais, como Jude Wanniski ex-editor do “The Wall Street Journal”, associam os elevados preços do “crude” à instabilidade criada nos mercados mundiais pelo abandono, em 1971, do padrão-ouro e com o início da flutuação do dólar americano e mais recentemente à interrupção na política de novos investimentos no sector extractivo que ditaram uma quebra nas reservas disponíveis.

De um modo geral quase toda a gente associa a subida do petróleo à actuação da OPEP (cartel de países produtores de petróleo e onde pontificam os países árabes) e á instabilidade política em que vive a região do médio-oriente, por esta ser normalmente associada às reservas e explorações petrolíferas. Não sendo inteiramente falso, o médio-oriente constitui uma das principais reservas conhecidas de petróleo, há que também ter em conta, dizem outros analistas, a crescente procura de petróleo por parte das indústrias emergentes da China e Índia, que aumentando a procura estão a forçar a subida dos preços internacionais.

A explicação poderá estar em todo este conjunto de razões, cabalmente fundamentadas pelos respectivos defensores, mas creio que falta aqui adicionar mais dois ou três pormenores. Primeiro, a escassez de reservas de “crude” carece de confirmação uma vez que as previsões adiantadas pelos especialistas se baseiam nas áreas de produção já conhecidas e em actividade, deixando de fora vastas áreas do planeta, como sejam o continente africano e o asiático (há seguramente fortíssimas razões de natureza político-económica para um erro tão grosseiro). Segundo, a instabilidade no médio-oriente é, como todos bem sabemos, fomentada (fragmentação dos estados árabes por via da criação do estado judaico, invasões do Iraque, etc.) e não endémica, pelo que a esta não pode ser uma verdadeira explicação para o fenómeno. Terceiro, a política de flutuação do dólar (em resposta aos interesses da dívida americana), podendo ser a que melhor se aproxima do problema uma vez que introduz as componentes de aleatoriedade e especulação próprias dos mercados financeiros, deixa por explicar os acontecimentos de natureza geo-política anteriormente referidos, transformando-os em acontecimentos isolados e escamoteando outro importante facto: este fenómeno de acelerada subida dos preços do crude acontece após a conquista da administração norte americana pelo “lobby” do petróleo (perfeitamente personificada nos interesses da família Bush e da sua “entourage”, onde pontificam Dick Cheney, Donald Ramsfeld, Paul Wolfowitz e Condollezza Rice).

Sendo inegável que a política norte-americana é uma forte condicionante deste problema, quer na sua vertente interna – tentativa de poupança estratégica dos seus recursos petrolíferos como factor determinante para a sua capacidade de intervenção militar – quer na externa – apoio empenhado à política israelita de desestabilização do médio-oriente e fortíssimo empenho no controle directo das reservas ali localizadas – não é menos verdade que é crescente o peso que outros actores começam a ter (os estados produtores de petróleo da américa-latina e das ex-repúblicas soviéticas), bem como o crescente desejo dos países árabes (sabedores da profunda dependência do petróleo de que enfermam as economias ocidentais e da crescente apetência, por esse produto, de países enormemente populosos como a China e a Índia) verem aumentado o seu “quinhão” no negócio.

A toda esta envolvente do “negócio” falta adicionar outro conjunto de intervenientes que historicamente têm tido um papel igualmente relevante e que é integrado pelas grandes multinacionais do sector. As empresas petrolíferas que ainda mantém um elevado nível de cartelização deste mercado, em tempos personificado pelas sete irmãs (a Standard Oil, a Exxon, a Mobil Oil, aGulf Oil, a Texaco, a Shell e a BP), agora mais atomizado mas não menos relevante.
Mas o fenómeno da subida do preço dos combustíveis que os cidadãos portugueses suportam não deriva apenas da conjugação de todos estes jogos de interesses, outros “parceiros” existem, ao nosso diminuto nível, mas não menos ávidos de amealharem a sua fatia. A gasolineira nacional que apesar (ou graças a ela) da subida em flecha do preço do "crude" anunciou em princípios de Maio deste ano um aumento dos lucros, no primeiro trimestre, da ordem dos 500% (mais de 350% depois de descontado o efeito da venda da participação na Portgás) e o nosso bem-amado Estado que arrecada quase 70% do que pagamos por cada litro de combustível, fruto do efeito conjugado do ISP e do IVA.

Sejam quais forem as razões apresentadas para a subida do preço dos combustíveis, o certo é que esta situação nada tem a ver com os custos de extracção, transporte ou refinação e que as notícias que diariamente circulam, como a que hoje anunciava que o "crude" tinha ultrapassado a barreira dos 70 USD por barril no mercado norte-americano, depois do furacão Katrina ter forçado o encerramento das plataformas de exploração petrolífera no Golfo do México, mais não servem que os objectivos de especuladores e outros “lucradores” com um produto que a sociedade actual persiste em manter indispensável.

domingo, 28 de agosto de 2005

NOVAS DO IRAQUE

Notícias hoje difundidas em vários meios de comunicação dão notícia dos mais recentes desenvolvimentos a respeito da futura Constituição Iraquiana.

Apesar de várias tentativas a minoria sunita não parece disposta a validar o texto que a maioria xiita e os curdos já acordaram.

A Casa Branca enfrenta novas dificuldades num terreno no qual ao longo dos últimos anos tem coleccionado dissabores. Após a continuação das hostilidades renasce, fortemente, a possibilidade da “aventura americana” se concluir por um cenário de guerra civil.

George W Bush, ou melhor algum dos seus muitos conselheiros, vai ter de encontrar uma saída para uma crise que cresce ameaçadoramente. Como se não bastasse a contínua chegada de mais soldados mortos o presidente americano confronta-se com o número decrescente de americanos que apoiam a invasão (a última sondagem apontava para apenas 39%) e a contínua crítica dos principais parceiros mundiais (França, Alemanha, Rússia, China).

Cada vez mais o cenário que a administração americana vive no Iraque se assemelha com outros vividos durante a Guerra Fria (que então tudo explicava e justificava) e cada vez menos colhe receptividade a sempre anunciada guerra contra o terror.

Infelizmente este vai ser mais um tema a seguir…

ESTUDO SOBRE A OTA - II

Uma semana longe da realidade nacional e constato que os problemas continuam os mesmos; assim, publica hoje o Portugal Diário uma notícia sobre o “Estudo Preliminar de Impacto Ambiental” (EPIA) relativo ao projecto de implantação de um novo aeroporto na Ota.

Deste estudo ressaltam as importantes vantagens que resultarão ao nível do crescimento do emprego, de outros sectores de actividade económica e do aumento de rendimentos para os proprietários fundiários, sendo ainda de referir as conclusões à forte receptividade da comunidade da zona à ideia da implantação do novo aeroporto.

Relativamente aos inconvenientes o EPIA contenta-se em referir os ligados à qualidade do ar, ao ruído, à destruição de ecossistemas naturais e à expansão urbano/industrial associada ao projecto.

Em qualquer dos casos (vantagens e inconvenientes) não existe qualquer tentativa de quantificação, limitando-se a apresentar uma previsão para a evolução do número anual de passageiros que demandarão o aeroporto de Lisboa e afiançando que as instalações da Portela não poderão responder mesmo após uma eventual nova ampliação.

Nesta “guerra” de estudos entre os que afiançam existir capacidade de crescimento na Portela (ver notícia do Publico de 12 de Agosto) e os que afirmam o contrário, continua uma certeza: ESTE OU OUTRO GOVERNO LEVARÁ AVANTE MAIS UMA GRANDE OBRA CUJOS CUSTOS NÃO SERÃO SUFICIENTEMENTE AVALIADOS MAS QUE SEGURAMENTE SERÃO SUPORTADOS PELOS CONTRIBUINTES NACIONAIS UMA VEZ QUE SE REVELAM INCAPAZES DE PROCURAR (APLICAR) SOLUÇÕES INOVADORAS (ver Post de 20 de Agosto)

domingo, 21 de agosto de 2005

FALTA DE INICIATIVA?

Apenas uma breve nota para chamar a vossa atenção para o editorial de hoje do Diário de Notícias, onde o seu autor traz a debate a importante questão da atitude desresponsabilizante dos nossos governantes e sobre a falta de informação em torno da sua actividade.

Nem é preciso lembrar os polémicos projectos da OTA e do TGV, basta olhar à nossa volta e constatar a forma como (não) se debate, com dados e estudos fidedignos, o problema da (des)ordenação do território. Não basta apresentar soluções mais ou menos exequíveis, é igualmente indispensável que as pessoas as entendam, isto é, que as mesmas lhes sejam minimamente explicadas.

É certo que o crescente divórcio entre os cidadãos e a coisa pública poderá não facilitar este processo, mas também é bem verdade que nos últimos anos pouco ou nada tem sido feito sobre a matéria. Sabe-se que existem grupos de cidadãos preocupados com estas questões (a blogosfera é um bom exemplo desta realidade) mas continuam a faltar iniciativas que levem à comunidade em geral estes e outros esforços.

Com o encerrar do processo de apresentação de candidaturas às eleições autárquicas de Outubro próximo voltamos a repetir o mesmo sentimento antigo: para quando a alteração legislativa que facilite a formalização de candidaturas de movimentos locais, desenraizadas de uma lógica e prática partidárias que, diz-se à boca grande, contribui para o afastamento de muitas vontades? Como explicar que haja autarquias onde as mesmas pessoas repetem infinitas candidaturas (vencedoras ou vencidas)? Será que não existem outras pessoas com perfil e qualidade para ensaiarem a condução dos destinos públicos?

Continuamos muito mal quando não conseguimos renovar em ideias e iniciativas a gestão dos problemas públicos. Será só falta de iniciativa?

sábado, 20 de agosto de 2005

ESTUDO SOBRE A OTA

A pouco e pouco vão aparecendo os estudos de que tanto se tem falado.

Traz-nos o EXPRESSO notícia sobre um destes, realizado por Alfredo Marvão Pereira - professor de Economia no College of William and Mary, na Virgínia (EUA) - e Jorge M. Andraz, intitulado «Investimento Público em Infra-estruturas de Transporte e o seu Desempenho em Portugal» a partir do qual poderão ser extraídas conclusões sobre o projecto de construção do novo Aeroporto da Ota.

Tendo o cuidado prévio de chamar a atenção para as limitações do estudo, assumidas pelos seus autores que chamam a atenção para o facto de se tratar de um trabalho que preconizando estratégias de desenvolvimento baseadas em infra-estruturas de transportes, não deverá ser utilizado como argumento para a justificação de projectos específicos, sempre vai adiantando que este tem servido de argumento aos defensores daquele projecto.

No essencial o estudo preconiza a utilização de investimentos públicos que traduzindo-se em impactos positivos na economia, gerarão crescimentos no emprego, no PIB e nas receitas fiscais; a decisão ou escolha de um projecto resultará da avaliação, do saldo dos benefícios “versus” custos, medidos na óptica fiscal. Em termos práticos tratar-se-á de comparar o volume de investimento necessário à concretização do projecto com as receitas fiscais que este gerará por via do acréscimo estimado sobre o PIB.

Aplicando este raciocínio ao caso do Aeroporto da Ota, os autores do artigo traçam dois cenários possíveis: um optimista e outro realista.

No primeiro caso a iniciativa privada investirá, nos próximos 25 anos, 67 mil milhões de euros, cujo impacto no PIB gerará um crescimento das receitas fiscais que permitirá uma amortização da componente de investimento público em apenas 4 ou 5 anos. No segundo caso o investimento privado não ultrapassará os 17 mil milhões de euros e a amortização da componente pública será alcançada ao fim de 11 anos.

Independentemente da validade (leia-se fiabilidade) destes cálculos que me parece enfermarem de um pequeno vício de raciocínio – terão os autores descontado devidamente o efeito de fuga fiscal que severifica no nosso país? - creio que permanecem por responder duas questões:
Pretende o governo lançar a construção de um novo aeroporto por o actual se encontrar esgotado, ou em vias de o vir a ficar? Ou, uma vez que a Portela se encontra cada vez mais englobada na malha urbana, pretende fazê-lo por manifestas questões de segurança?

Qualquer que seja a resposta (e até admito que para alguns analistas possam ser as duas) mais que discutir os potenciais resultados do novo aeroporto, importará encontrar uma forma de o financiar. Nesta matéria será seguro, para quase todos nós, quem irá suportar o custo de mais esta obra e quem irá beneficiar com ela, embolsando os lucros com a construção da nova infra-estrutura (como é habitual o orçamento previsto será ultrapassado em muito milhões de euros) e com a especulação imobiliária sobre os terrenos do actual aeroporto, agora livres para a iniciativa privada.

A propósito, porque não revelam os nossos governantes uma real capacidade para a inovação e negoceiam a construção do novo aeroporto como contrapartida para o acesso aos terrenos livres do actual?

Isso sim, isso é que era revelarem uma grande capacidade de negociação e liderança!

E já agora sempre economizávamos todos qualquer coisa… e por uma vez não víamos os mesmos a ganharem tudo!

sexta-feira, 19 de agosto de 2005

PÃO, VINHO & COMPANHIA EM ALMEIRIM

Porque a época do ano a isso é propícia...

Porque nem sempre podemos pensar só nos problemas...

Porque estamos em Almeirim...

Porque começa hoje...

aqui fica o programa do PÃO, VINHO & COMPANHIA


com uma chamada especial de atenção para os concertos dos UHF, EZ SPECIAL e TORANJA
Este ano os "jovens" vão ter mais razões para não faltar!

MAS PORQUÊ SÓ ESTE ANO?
HÁ ALGUMA RAZÃO ESPECIAL? SERÁ A XXV EDIÇÃO?

NÃO! SÃO AS ELEIÇÕES, ESTÚPIDO...

quinta-feira, 18 de agosto de 2005

A “MALAPATA” DA MATEMÁTICA OU A PROVA DA NOSSA INEFICÁCIA?

Passam os anos, sucedem-se os governos e os ministros, mas os resultados dos exames nacionais do 12º ano de escolaridade persistem em não melhorar.

Tomando por exemplo as disciplinas de Matemática e de Português B (geral), constata-se que da 1ª para a 2ª fase, daqueles exames, os resultados pioraram, quer a nível da percentagem de reprovações quer na média de cada disciplina.

No caso da Matemática passou-se de 31% para 47% de reprovações, com a média a descer de 6,9 para 5,8 valores; no Português B o número de reprovações aumentou de 7% na 1ª fase para cerca de 33% na 2ª, com a média a descer de 11,1 para 8,7 valores.

Podendo-se admitir como natural que não se registassem melhorias entre as duas fases - normalmente a 2ª fase é usada pelos alunos que não obtiveram classificação (9,5 valores) na 1ª e pelos que optaram por “preparar” melhor essa disciplina – não me parece admissível uma degradação tão acentuada (mais de 50% no caso da Matemática e quase o quadruplo no caso do Português B).

Perante este nível de resultados mais que se justifica colocar as seguintes questões:

Como entende o Ministério da Educação inverter esta situação?

Para quando a definição de uma estratégia para a correcção do problema?

Será que nenhum responsável pela educação dos nossos jovens alguma vez se questionou sobre a origem do problema?

Se a resposta for pela positiva (como se exige), como explicar então que o nosso sistema de ensino continue a “produzir” milhares de jovens inaptos (outra coisa não se pode chamar a quem, no final de doze anos de escolaridade não consegue obter uma classificação mínima a uma, ou mesmo às duas disciplinas básicas) que quando tentarem integrar o mercado de trabalho irão encontrar dificuldades acrescidas de ingresso?

Mas, a dimensão do problema da baixa qualidade da formação dos jovens é bem maior do que estes números revelam. Para o confirmar basta pensar que o universo em análise (12º ano de escolaridade) já não inclui muitos dos que infelizmente se quedaram pelo 3º ciclo de escolaridade.

Para generalizar esta análise àquele nível de ensino comparemos os resultados nos exames nacionais (que este ano se voltaram a realizar), alcançados nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática.

A acreditar no texto da Nota emanada pelo Gabinete de Imprensa do Ministério da Educação, sobre o assunto, os resultados nestes exames do 9º ano não foram tão catastróficos. Nela se anunciam, percentagens de aprovações de 89% a Língua Portuguesa e de 74% a Matemática. Facto consolador e transmissor de justas esperanças na melhoria, daqui a três anos, dos resultados nos exames do 12º ano.

Porém, uma leitura mais atenta dos resultados dos exames do 9º ano de escolaridade (e não da nota final que resulta de uma ponderação entre 75% da nota do 3º período e de 25% da nota do exame) revela que na disciplina de Língua Portuguesa 23,1% dos alunos não alcançaram a nota mínima, na disciplina de Matemática este valor subiu para 70,7% e as notas médias situaram-se em 3,04 e 2,17 para as duas disciplinas, respectivamente.

Na ausência de dados concretos, estou em crer que a terem-se realizado exames nacionais no final de cada ciclo de escolaridade (4º e 6º ano) os resultados seriam semelhantes, porquanto, é minha convicção que as “incapacidades” dos nossos jovens não são inatas ou congénitas, mas sim adquiridas ao longo de um processo de formação que dificilmente lhes consegue inculcar valores de Trabalho, Mérito e Excelência.
E porquê? Porque os seus agentes estão, quase, exclusivamente preocupados com o cumprimento de metas estatísticas de sucesso – para quem alguma vez tenha vivido de perto o processo de avaliação escolar, no sistema de escolaridade obrigatória que no nosso país se cumpre até ao 9º ano, sabe que é muito mais difícil justificar a retenção de um aluno do que atribuir-lhe o 3 salvador que o fará transitar de ano e, maravilha das maravilhas, melhorará os rácios nacionais de escolaridade – e descuram o seu papel principal: formar jovens, dotando-os de um conjunto de conhecimentos adequados à necessidade da sua integração numa sociedade crescentemente tecnológica e competitiva.

quarta-feira, 17 de agosto de 2005

CONTINUA O LOGRO


Como não era difícil de prever começaram a chegar às redacções dos jornais ecos das reais motivações do desmantelamento dos colonatos judaicos na Faixa de Gaza.
Perante a indignação dos ultraconservadores sionistas Ariel Sharon lá foi deixando escapar, com umas lágrimas à mistura, que a política de instalação de colonatos vai prosseguir na Cisjordânia, enquanto notícias dessa região dão conta da chegada dos primeiros colonos transferidos da Faixa de Gaza.

Como se não bastasse a confirmação da hipocrisia que continua a grassar na política israelita (com o óbvio beneplácito do “amigo americano”) começam agora a levantar-se as primeiras dúvidas sobre o futuro imediato da Faixa de Gaza.

A manter-se a política israelita de controle discricionário das fronteiras com o estado da Palestina, estar-se-á a condenar a população residente neste território a continuar a funcionar como refém do poder israelita. O controle das fronteiras significa apenas a possibilidade de extinguir pela fome e inanição quase toda a população daquele território, uma vez que esta depende na quase totalidade de deslocações a território israelita para trabalhar e assegurar a aquisição dos géneros básicos.

A economia palestiniana atravessa uma grave crise desde o início da Intifada, em 2000, e o local onde os seus efeitos são mais visíveis é na Faixa de Gaza, por não dispor nem dos parcos recursos de uma agricultura de subsistência nem qualquer indústria, que ainda vai existindo na Cisjordânia.
No seu conjunto a economia palestiniana caiu quase 40% nos últimos 4 anos, com taxas de desemprego de 23% na Cisjordânia e 35% na Faixa de Gaza. Estes dados do Banco Mundial são ainda mais preocupantes quando concluem que nesta zona a taxa de pobreza (os que vivem com 2 UD$ diários ou menos) é da ordem dos 65% contra 32,5% na Cisjordânia.

A prática de restrições à liberdade de movimento das populações, levada a cabo pelo exército israelita, a par com a regular destruição de infra-estruturas (sempre justificada pela necessidade de terminar com o terrorismo palestiniano) tem sido responsável pela constante regressão da sua já débil economia.

A retirada israelita poderá produzir frutos, no aumento da área cultivavel e se à Autoridade Palestiniana for permitida a reparação das infra-estruturas destruídas, nomeadamente o aeroporto, e o lançamento (com a ajuda internacional) de um programa de aproveitamento da zona costeira (actividade portuária e turismo).
Tudo isto estará, infelizmente, dependente da vontade de um povo que sempre se tem revelado mau vizinho.

Para quando a conclusão pela comunidade internacional de que Israel é uma parte do problema e não parte da sua resolução?

terça-feira, 16 de agosto de 2005

ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS

Se não estou em erro acabou hoje o prazo para a apresentação das listas concorrentes ás eleições autárquicas do próximo dia 9 de Outubro.

Na nossa terra, salvo a notícia impressa no ALMEIRINENSE, de 15 de Julho, que anunciava a recandidatura da vereadora da oposição Manuela Cunha, pela CDU, e de num número anterior ter noticiado a candidatura de Pedro Pisco dos Santos, pelo PSD, pouco mais se sabe.

Prevê-se que a lista do PS volte a ser encabeçada por Sousa Gomes, actual Presidente da Câmara, mas sem confirmação.

Com a abertura da pré-campanha, mais haverá, seguramente, a comentar…

FORUM INTERNACIONAL SOBRE SERVIÇOS PÚBLICOS

A Agência Financeira noticiou hoje que a plataforma «Iniciativa pelos Serviços Públicos» promove no próximo dia 18 a realização de um fórum internacional dedicado àqueles serviços.

Esta plataforma que integra 110 comissões e associações de utentes, organizações sindicais e comissões de trabalhadores pretende sensibilizar a opinião pública para o que entende serem os resultados da crescente transferência de serviços para a esfera privada e dos respectivos resultados que entendem traduzir-se num aumento de custos para os utilizadores e para o próprio Estado.

Independentemente na inevitável polémica entre defensores e opositores é um assunto de inegável interesse e a acompanhar…

OBRAS DE ESTADO OU “OBRAS” POLÉMICAS?

Avolumam-se artigos de imprensa e opiniões sobre o funcionamento deste governo e de anteriores. Alinham-se os intervenientes, afinam-se os argumentos, procuram-se aliados, enfim parece tudo pronto para o início de mais uma batalha (afinal a sempre propalada “rentré” política está para breve) em torno da qualidade deste governo “versus” a do anterior.

Não gostaria de alinhar por nenhum dos campos (nem de fazer o papel de Salomão), parece-me é que argumentos pró e contra podem sempre ser avançados sem que ninguém lucre, efectivamente, com eles.

Dizer deste governo que ultrapassou a barreira do aceitável no processo de satisfação da sua clientela, não constitui, infelizmente, nada que não se tivesse já dito de anteriores; dizer que a opção do aumento do IVA para equilíbrio do deficit é no mínimo muito discutível (quer pelos efeito em cadeia sobre a retracção do mercado interno, o investimento privado, o crescimento do mercado paralelo, em último caso pela queda do PIB e da matéria colectável, logo, das receitas esperadas) não é nada que não tenha sido ouvido em anteriores aumentos; dizer que projectos como a OTA e o TGV são meramente despesistas e não constituem mais que obras de regime, também não é novidade. Que dizer então de outras realizadas já na vigência da 3ª República?

Recordando só os últimos 20 anos constata-se que nenhum governo passa incólume na avaliação; foram os de Cavaco Silva com a febre da asfaltagem portageira e da magnificência do Centro Cultural de Belém, foram os governos de António Guterres com a EXPO 98 e a Ponte Vasco da Gama (ambas iniciadas nos tempos de Cavaco Silva) e a realização do EURO 2004, que se concluiria já com Durão Barroso. Todos, de uma forma ou outra, foram coniventes na sua realização quando não no seu lançamento.

Esta constatação leva-me a colocar uma simples questão: Quem, sinceramente, esperava algo de novo?

Não se verificando em qualquer dos dois principais partidos o mais pequeno indício de crítica a todo aquele arrazoado de “obras” (antes pelo contrário, cada um deles tenta fazer-se ouvir apenas nas críticas às do outro, como se em momento algum tivessem tido a mínima das responsabilidades perante o conjunto, e qual paladino impoluto as suas fossem ”obras santas”) nem às respectivas práticas políticas, que podíamos nós esperar se não mais do mesmo (onde é que eu já ouvi isto?).

Creio que o verdadeiro grande problema reside na incapacidade das estruturas partidárias nacionais, 30 anos após a queda do Estado Novo, terem concretizado um processo de efectivo rejuvenescimento dos seus programas, ideais e mentalidades. Não basta fazer eleger jovens deputados ou jovens autarcas, é preciso que estes tenham capacidade para pensar por si próprios e não funcionem como meras correias de transmissão da vontade das cúpulas partidárias.

É curioso que ao escrever isto veio-me à memória uma das grandes críticas que pós 25 de Abril se fazia ao PC, por manter em funcionamento a sua estrutura de “controleiros”. Não será que PS e PSD reciclaram e refinaram esses mesmos princípios, garantindo agora a existência de grupos de seguidores cordatos? Sendo óbvio que já nos tempos das velhas monarquias havia que pagar os gastos das cortes, porque estranhamos agora as benesses distribuídas aos novos “cortesãos”?
Não será esta, entre muitas outras, uma das razões que também está a contribuir para o crescente afastamento entre os jovens e a vida política?

Ou será que a resposta é ainda mais maquiavélica e esta é uma prática estrategicamente concertada para, por esta via, as estruturas partidárias garantirem a sua própria sobrevivência (criando cortes carreiristas e dependentes) e simultaneamente, ao contribuírem para o desinteresse das populações garantirem a sua perpetuação no poder?

segunda-feira, 15 de agosto de 2005

SECA, INCÊNDIOS; CALOR…

Um país que vive uma das piores secas dos últimos 25 anos, que vê sua área florestal arder anualmente e cujas temperaturas médias continuam a subir, persiste sem procurar soluções que, no dia a dia, criem novos hábitos de vivência com estes fenómenos.

Se não há dinheiro para equipar condignamente as corporações de bombeiros, nem meios para provocar “chuvas artificiais”, há seguramente práticas que ajudem a minorar os efeitos da seca. Sejam ao nível da poupança de água para abastecimento das populações, seja para a produção de energia eléctrica.

Municípios houve que numa tentativa de reduzirem gastos, e talvez como forma de exemplo, decidiram encerrar as piscinas municipais, mas na prática pouco mais se ouviu neste capítulo além de umas campanhas publicitárias da Comissão para a Seca2005 (se não me tivessem enviado um postal nem saberia que existia uma comissão para semelhante problema). O governo avançou com um projecto de construção de um parque eólico, para produção de energia eléctrica, mas isso ainda vai levar tempo a produzir efeitos.

Mesmo não se tratando de grandes iniciativas, parece-me que o que todos precisamos são de acções que sintamos úteis e passíveis de aplicação no imediato. Estou-me a lembrar de uma iniciativa do governo nipónico que há coisa de um mês ou dois, propôs aos patrões e directores de empresas que incentivassem, ou pelo menos não contrariassem, os seus empregados a aliviar o vestuário como forma de permitir uma redução de 2 ou 3 graus na regulação dos sistemas de ar condicionado; esperava o dito governo alcançar uma poupança significativa no consumo de energia eléctrica.

É óbvio que estou a falar de um país que tem graves carências energéticas e um ainda maior deficit orçamental; nós não, por isso, se algum dos nossos governantes ler o que acabei de escrever vai é pensar que o que eu quero é apenas ir trabalhar sem gravata!

ESPEREMOS…

Esperemos que o início do processo de abandono dos colonatos israelitas, na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, registe sucesso…

Esperemos que os grupos de radicais (judaicos ou islâmicos) não inviabilizem esta iniciativa…

Esperemos que tudo isto não passe de mais uma das muitas farsas organizadas por anteriores governos israelitas…

Esperemos…

domingo, 14 de agosto de 2005

U2


Os membros da banda irlandesa são hoje, dia da realização em Lisboa do último concerto da "Vertigo Tour", condecorados pelo Presidente da República com a Ordem da Liberdade, pelo seu trabalho e empenho em causas humanitárias.

Começa, felizmente, a ser habitual encontrarmos nomes da cultura mundial associados à defesa ou promoção do que a sociedade designa por causas humanitárias.

Cada vez mais encontramos bandas de música associadas a organizações e/ou campanhas pela defesa de direitos e princípios que deveriam ser básicos para todos nós.

O “Live Aid”, primeira iniciativa do género, e o recente “Live Eight” poderão ter conseguido pouco mais que despertar alguns milhões de jovens para outros problemas, para além dos que os rodeiam no seu dia a dia, mas só por isso valeram a pena!

Será pouco, mas para muita gente as notícias das iniciativas realizadas por Bono (vocalista do grupo U2) em prol da luta contra a pobreza ou a favor do perdão da dívida aos países do terceiro mundo, e as reuniões com Bush e João Paulo II, foram o seu primeiro contacto com a existência de tais preocupações e apenas devido ao seu gosto pela música do grupo.

Seria muito bom que as muitas iniciativas que outras figuras da cultura (mundial, nacional ou mesmo local) vão promovendo recebessem igual difusão e promoção – mesmo correndo algum risco da iniciativa pouco ultrapassar uma bem montada campanha de promoção pessoal – por forma a que todos representássemos cada vez mais a VOZ que se une para melhorar o Mundo.

AFINAL ESTUDO CITADO PELO MINISTRO É CONTRA A OTA

Este título inserido na página de abertura do portal IOL, levou-me, curioso, a ler o que se segue:

Estudo citado pelo ministro
Afinal relatório diz que Ota é «negativa»
A construção do novo aeroporto da região de Lisboa, na Ota, «terá impactos negativos significativos, fundamentalmente devido à destruição de habitats». A Ota «implicará a destruição de corredores ecológicos existentes» e «acarretará ruído além do legal». A «acessibilidade da procura lisboeta de transporte aéreo irá piorar» e «o município de Lisboa poderá perder receitas em consequência da quebra populacional e da relocalização de empresas para outros concelhos da região».
Estes e outros conceitos, citados pelo «Diário de Notícias», não são retirados de nenhum relatório mandado realizar pela oposição à localização do novo aeroporto preferida pelo actual Governo. Consta, isso sim, do estudo preliminar de impacto ambiental elaborado pelo NAER (Novo Aeroporto) e ontem referido pelo ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Mário Lino, na defesa que expôs da localização referida.
Mas nem o ministro nem a oposição citam dois relatórios, também conhecidos em 1999, que só vieram à luz do dia por via da investigação jornalística. Os relatórios da British Air Authority (BAA) e do Manchester Airport, eram do conhecimento das autoridades aeroportuárias e políticas desde Julho desse ano mas só viram parcialmente a luz do dia nas páginas dos jornais em Novembro do mesmo ano. Desses relatórios inferia-se que a Portela teria capacidade, se devidamente remodelada, para 21 milhões de passageiros por ano, uma barreira que não deveria, segundo estimativas da época, ser ultrapassada antes de 2020.
Os relatórios aconselhavam a «desenvolver as instalações existentes até ao limite da sua capacidade» e afirmavam a «operacionalidade garantida até 2020». Não consideravam necessária a construção de outra pista e diziam que quer a Ota quer Rio Frio eram hipóteses mais caras que a ampliação da Portela.
O relatório de Manchester assinalava, já na altura, a necessidade de ampliar a rede do Metropolitano de modo a que esta servisse o aeroporto actual.

Quando é que os nossos políticos aprenderão que mais depressa se apanha um político mentiroso que um cidadão coxo?

sábado, 13 de agosto de 2005

ABORDAGENS AO PROBLEMA DA POBREZA

O combate à pobreza e ao subdesenvolvimento deveria ser uma tarefa primordial de todos os estados. Existem, porém, grandes divergências na forma e conteúdo desta tarefa.

Por se tratar de autor particularmente insuspeito (é director do Earth Institute da Universidade de Columbia, assessor de Kofi Annan, Secretário-geral da ONU, para o programa Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e autor do recente «The End of Poverty»), recomendo a leitura do artigo de Jeffrey Sachs, disponível no EXPRESSO Online; este confirma, o que muita gente vem denunciando há muito tempo – A AJUDA DOS PAÍSES MAIS RICOS É MANIFESTAMENTE DESPROPORCIONADA ÀS CAPACIDADES DOS DOADORES E NORMALMENTE MAL ORIENTADA.

Na imprensa surgem regularmente notícias sobre muitos outros “desvios” que os fluxos de auxílio sofrem; não é de estranhar que entre as administrações dos países do terceiro mundo pulule toda a casta de oportunistas, não são os países mais desenvolvidos que continuam a insistir nas vantagens dos princípios da globalização? Que massacram as populações com as suas campanhas de “marketing”?

Pouco, ou nada mudará realmente enquanto as culturas ocidentais continuarem a “exportar” os seus valores como se de verdades dogmáticas se tratassem, enquanto se persistir no princípio de que os povos das áfricas não apresentam capacidade para escolher e desenvolver o seu próprio modelo de crescimento, enquanto os potenciais difusores nacionais de formação e informação continuarem a ser formados nas escolas dos países que não respeitam os seus valores.

O Terceiro Mundo necessita urgentemente de uma mudança radical nas atitudes dos EUA, potência que cada vez mais assume a arrogância e a estultícia de uma política externa dualista (confronto entre os bons e os maus e defesa intransigente dos seus mais primários interesses), enquanto revela crescentes dificuldades em inverter o processo de desagregação da sua própria sociedade, que dificilmente poderá contribuir para a introdução de melhorias (não sou ingénuo ao ponto de pensar que possam ser introduzidas importantes alterações) no actual sistema de comércio mundial.

A par com esta, importa também que outros estados (CE, Rússia, Japão, China) iniciem processos multilaterais de negociação de regras comerciais que invertam o padrão em vigor, segundo o qual ao Terceiro Mundo compete o fornecimento de matérias-primas baratas e a aquisição de tecnologia destinada ao seu “desenvolvimento”.

O artigo de Jeffrey Sachs, deixando muitas destas questões por responder, tem a virtualidade de apontar alguns dos caminhos para a minimização do problema do subdesenvolvimento, haja quem, sinceramente, o queira percorrer…

sexta-feira, 12 de agosto de 2005

HAJA DECORO

Nunca terei estado mais de acordo com qualquer titular de alto cargo público deste país do que com o ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicação, Mário Lino (ver EXPRESSO).

É indispensável que políticos (mais ou menos oposicionistas) e público em geral entendam, de uma vez por todas, que a intenção e empenho do executivo nas grandes obras estruturantes que são o Aeroporto da OTA e o TGV se encontra mais que fundamentada e alicerçada em rigorosos estudos de avaliação. Tudo o que seja dito em contrário, mais do que falsidade, constitui um bem urdido entrave ao desenvolvimento de Portugal, porque projectos da dimensão e qualidade da OTA e do TGV são indispensáveis ao desenvolvimento de qualquer moderna nação europeia, mais, será por sua acção que o país reencontrará a sua ambição e capacidade para ultrapassar as actuais dificuldades.

HAJA DECORO exclamou o nosso ministro e eu acompanho-o!

Mas… se houvesse decoro este país não teria ministros que na tentativa de argumentação confundem estudos de impacto ambiental (inegavelmente importantes para um adequado processo de decisão) com estudos económicos e financeiros de avaliação da efectiva necessidade dos projectos e da forma como, a realizá-los, será assegurada a respectiva cobertura financeira.
HAJA DECORO… Tenham os políticos deste país o pejo indispensável para terminarem com os sucessivos atestados de ignorância e estupidez àqueles que os elegeram e em vez de recorrerem aos habituais discursos para mentecaptos ou sequazes partidários a coragem de descerem dos pedestais que nunca deveriam ter alcançado e venham-nos explicar para que necessita este país (que todos os anos arde por incúria de uns e incompetência de outros, onde se continua a morrer nas estradas e existem iluminados que esperam resolver o problema mediante a publicação de um novo rol de coimas, onde o acesso a sistemas de saúde e educação dignos e eficazes continua a ser uma miragem) de uma linha de comboios de alta velocidade se nem os de velocidade normal consegue fazer circular dentro dos horários previstos.

HAJA DECORO… e explique-nos o governo as razões (salvo as de segurança) que conduzem à necessidade imperiosa de construir um novo aeroporto neste país. Será que os atentados terroristas mais recentes se vão traduzir num desvio dos fluxos turísticos tradicionais em benefício deste território onde, facto conhecido em todo o mundo e fruto de uma população estupidamente dócil, não existe a mínima hipótese de sucesso para qualquer tentativa de actos daquela natureza? Ou, explicação bem mais prosaica, com a instalação do TGV o governo antevê que o novo aeroporto possa servir todos aqueles que demandam Madrid, quiçá mesmo Barcelona? E já agora porque não, para evitar congestionamentos sempre desagradáveis, possa também ser uma alternativa viável a Orly ou Charles de Gaulle?

HAJA DECORO… e expliquem-nos, não só a real necessidade e utilidade dos projectos que anunciaram, mas também como e quem os vai pagar! Já agora, não nos deixem na angustiante certeza que estes (há semelhança de outros antes destes, como o Centro Cultural de Belém, a EXPO98, a Ponte Vasco da Gama e o EURO2004), mais não vão ser que “obras de regime” e lembrem-se que este povo já se libertou de anteriores fazedores de outras obras de regime…

quinta-feira, 11 de agosto de 2005

AINDA O ISLÃO…

Nem de propósito! Depois do artigo do Prof. Adriano Moreira, ao qual me referi ontem, eis que hoje, Luís Delgado, num artigo publicado no mesmo jornal vem glosar quase o mesmo tema.

Não directamente, mas a propósito do fracasso da oferta de colaboração europeia com vista ao desenvolvimento do programa nuclear civil do Irão, como forma de procurar obviar à criação de mais um arsenal nuclear.

Sabendo-se que qualquer tentativa no sentido de introduzir desequilíbrios numa região do globo que as administrações americanas recentes consideram cada vez mais como seu feudo privado (a questão da segurança interna é pura demagogia e destina-se ao seu próprio consumo interno), facilmente o articulista antevê qual vai ser a próxima reacção dos EUA.

Às invasões do Afeganistão (a pretexto da necessidade de captura do responsável pelo atentado contra o World Trade Center, mas na realidade extremamente útil para instalar uma forma de governo mais “permissível” à implantação de um gasoduto indispensável ao escoamento dos hidrocarbonetos oriundos das ex-repúblicas soviéticas fronteiriças) e do Iraque (indispensável à estabilidade pró americana da zona e ao controle de importantes reservas petrolíferas) deverá seguir-se a do Irão, bem como a de todos os estados árabes que façam ouvir a sua voz de forma suficientemente incomodativa.

Aliás, é só nesta lógica de “limpeza” sistemática que se poderá entender a recente política israelita de desmantelamento dos colonatos da faixa de Gaza – talvez o estado de Israel esteja a fazer pequenas concessões ao amigo americano – na tentativa de minimizar aquele que poucas vezes é referido nos meios de comunicação ocidental como importante foco de tensões e de um dos maiores argumentos dos extremistas islâmicos – o problema israelo-palestiniano.

Concordando com Luís Delgado quando classifica a iniciativa da CE de frouxa (uma vez que os iranianos a ultrapassaram facilmente), tenho sérias reservas sobre a sua opinião relativamente à utilidade, nesta e noutras matérias, da Carta Constitucional europeia. Importante sim será a CE resolver as contradições que o Reino Unido persistente introduz (pelo menos enquanto insistir em operar como “cavalo de tróia” dos interesses norte americano) e, de uma vez por todas, criar os meios para levar a pressão diplomática europeia ao grau seguinte, o que só logrará após a criação de um efectivo exército europeu (não no sentido imperialista mas no da disponibilidade de um real mecanismo de pressão).

terça-feira, 9 de agosto de 2005

O NOVO FENÓMENO DO ISLÃO

Num artigo, publicado no Diário de Notícias, intitulado O Estado e a Rede, o Prof. Adriano Moreira reflecte sobre o extremismo islâmico, o modelo organizacional das “redes”, a capacidade de resposta dos estados modernos e aquela que parece ser a mais recente linha de actuação (publicamente revelada pelo primeiro ministro britânico, Tony Blair, logo após os atentados de 7 de Julho em Londres): o estabelecimento de pontes (linhas de contacto) entre os estados ocidentais e o islão (leia-se líderes islâmicos moderados).

Esta crescentemente sentida necessidade de diálogo lembra-me antigas tentativas de síncrese religiosa de que a ordem religiosa-militar do Templo foi estandarte maior. Fracassada essa, outras tentativas surgiram, personificadas por múltiplos movimentos, quer na natureza religiosa quer filosófica, mas geralmente marcados por características iniciáticas ou secretas (1).

Esta nova tentativa, apresentada de forma tão aberta, não invalidará outras movimentações bem menos visíveis (a diplomacia internacional transborda de movimentos desta natureza) ficando reservada à opinião pública as notícias sobre questões acessórias como as futuras movimentações de tropas ou a oscilação do preço do petróleo.

A propósito já alguém se interrogou sobre as razões que originaram a invasão do Iraque? Alguém de boa fé acredita que a preocupação da coligação (EUA e RU) era o perigo de virem a ser utilizadas armas de destruição massiva (quem ninguém encontrou) pelo regime de Saddam Hussein?

Tudo não terá passado de uma conjugação de interesses – eliminação de um potencial desequilibrador na geo-política regional, que simultaneamente representava algum perigo para Israel, apoio a um estado (Arábia Saudita) crescentemente sujeito a pressões (internas e regionais) face à sua política demasiadamente pró-norte americana e controle do petróleo iraquiano – cuja passagem à prática não foi suficientemente avaliada (veja-se os crescentes problemas que a administração americana está a encontrar para explicar a situação no território) e cujos principais resultados são: aumento das tensões que estão a conduzir ao crescimento dos actos de terrorismo (tornando cada vez mais fácil a sua justificação a uma comunidade fanatizada mas também profundamente marginalizada) e o aumento do custo do petróleo, dificultando por esta via o rápido crescimento industrial do continente asiático, a recuperação das economias europeias e tornando cada vez próxima a rentabilização da extracção de petróleo do Alasca (talvez a real grande reserva petrolífera norte-americana).

Por tudo isto iniciativas de aproximação aos grupos islâmicos moderados (localizados no médio oriente ou em qualquer outra parte do globo) pode ser uma boa via para o “arrefecimento” de um conflito que provavelmente (como acontece com a generalidade deles) apenas existe na cabeça de certos grupos ou apenas representa inconfessáveis interesses de outros. Mas para que esta iniciativa possa conhecer um mínimo de sucesso parece-me igualmente indispensável que parte das nações ocidentais abandonem a política dualista (os “bons” contra os “maus”, sendo eles, obviamente, os “bons”) que vêem seguindo e a cujos frutos estamos agora a assistir.

O recrudescimento do terrorismo é, em boa parte, a resposta à política intervencionista da coligação (EUA e RU) que enquanto se mantiver pouco espaço deixará a outras iniciativas; neste cenário pouco optimista torna-se ainda mais estranha a posição do governo de Tony Blair (manutenção da aliança com os “falcões” americanos e aceno ao diálogo com os moderados islâmicos) que podendo não traduzir mais que uma grande confusão para os lados de Downing Street, pode igualmente traduzir o efeito que estará a ter na sociedade inglesa os recentes atentados em Londres.

(1) – Intencionalmente não referi as chamadas iniciativas ecuménicas da Igreja Católica por considerar condenadas ao fracasso (quiçá iniciativas de mero efeito propagandístico) aquelas onde dominem estruturas de ordem dogmática.

segunda-feira, 8 de agosto de 2005

AUMENTO DOS PEDIDOS DE APOSENTAÇÃO

De acordo com o Diário Digital o número de pedidos de aposentação apresentados pelos funcionários públicos atingiu, em Junho deste ano, o dobro do período homólogo de 2004.

Este aumento dos pedidos de reforma justificado pelas mudanças introduzidas pelo governo de José Sócrates ao estatuto de aposentação da Função Pública, traduzidas no aumento gradual da idade de reforma até aos 65 anos de idade e aos 40 anos de serviço, é a resposta do grupo de funcionários públicos em risco imediato de verem aumentado o tempo de serviço efectivo. Mas, e os milhares de outros que se encontravam num horizonte próximo da reforma, digamos 5 ou 6 anos, como vão reagir? Não iremos assistir ao seu “arrastar” até atingirem o novo limite?

E como vai reagir o número ainda maior dos que vêem duplicar o tempo de serviço em falta até à aposentação? Esta medida de saneamento da segurança social não se traduzirá a curto prazo numa maior degradação dos serviços?

Não consistirá tudo isto numa muito bem orquestrada manobra para, mediante uma mais que previsível quebra de produtividade (e atenção porque este é um dos chavões mais repetidos pelos nossos políticos), se passar a uma política de efectiva redução de salários? E porque não uma nova vaga de privatizações de serviços (criteriosamente escolhidos por forma assegurar a transferência para a esfera privada dos mais rentáveis)?

Neste país, onde a honestidade política e moral dos nossos governantes (actuais e antigos) se apresenta cada vez mais duvidosa, tudo se pode esperar...

APELO

Da forma incisa que todos lhe conhecemos debruçou-se Miguel Sousa Tavares sobre o projecto de construção do aeroporto da Ota, num artigo intitulado “Um crime na Ota” que veio à luz no Publico da passada sexta-feira.

Mais do que manifestar concordância com muito do que escreveu, parece-me de realçar algo que faltou na referida crónica.

Mais do que gritar “BASTA” urge a necessidade da sociedade civil (como os políticos gostam de se nos referir) se organizar num movimento de consistente contestação a este tipo de práticas. Assim, porque não começar o movimento aqui na “blogoesfera”?
Nesse sentido aqui deixo o meu micro-contributo, solidarizando-me com o apelo iniciado pelo ABRUPTO:

PODE O GOVERNO SFF COLOCAR EM LINHA OS ESTUDOS SOBRE O AEROPORTO DA OTA PARA QUE NA SOCIEDADE PORTUGUESA SE VALORIZE MAIS A “BUSCA DE SOLUÇÕES” EM DETRIMENTO DA “ESPECULAÇÃO”?

domingo, 7 de agosto de 2005

AS BOAS PRÁTICAS ECONÓMICAS OU POLÍTICA À PORTUGUESA

Uma notícia do Jornal de Notícias sobre o crescente fluxo de consumidores portugueses das zonas fronteiriças que se deslocam a Espanha para a realização das suas compras, não seria grande novidade salvo o facto de ”nuestros hermanos” comerciantes já estarem a salvaguardar o seu futuro (não venha o governo do “amigo” Sócrates, com o aproximar do calendário eleitoral, a recuar nas medidas de contenção do deficit).
A realidade é que na zona da raia galega os comerciantes locais não só vêem aumentar o fluxo de compradores portugueses como, previdentemente, já iniciaram uma agressiva política de fidelização da clientela oferecendo a modalidade de pagamento a prazo.
Bem podem tentar as grandes superfícies nacionais “oferecer” a devolução do IVA cobrado (em vales para novas compras) que poucos resultados irão alcançar contra os preços mais baixos praticados na Galiza espanhola (o diferencial de IVA é de 4%), acrescidos agora de pagamentos a prazo (entre 20 a 30 dias) sem juros.
Perante este cenário recomendam as boas práticas económicas que os comerciantes portugueses procedam a uma rápida deslocalização para território galego (ou qualquer outro da raia espanhola), pelo que não será de estranhar que mais dia, menos dia venhamos a ouvir falar da criação pelo ICEP de um novo programa. Por mim e como modesto contributo para esta política à portuguesa sugiro o PMME (Programa para a Mudança das Mercearias para Espanha).

sábado, 6 de agosto de 2005

DE BOAS INTENÇÕES ESTÁ O INFERNO CHEIO…

É o que diz o ditado…
E parece confirmar-se: o Irão rejeitou a proposta de colaboração da União Europeia tendo em vista o desenvolvimento do programa nuclear civil daquele país.
Está cada vez mais aberta a porta a nova intervenção militar (leia-se ocupação) dos EUA.

LIBERTEM OS BOMBEIROS


«Libertem os bombeiros
O ministro de Estado e da Administração Interna apelou sexta-feira aos patrões, pedindo-lhes que «libertem» os seus empregados que são bombeiros voluntários para ajudar no combate aos incêndios

Respiguei do Expresso este cabeçalho e princípio de notícia que se pode considerar normal, atendendo ao estado de sítio em que vive a nossa floresta, mas não posso deixar de pensar sobre o que o origina.
Mais do que a reduzida noção de civismo, de que parecem padecer bom número dos nossos empresários, não resultará este apelo, quase dramático, da total ausência de uma política nacional de segurança?
Se não vejamos.
Qual a razão para em pleno século XXI continuarmos dependentes de boas vontades para dispormos de corporações de bombeiros? Será uma efectiva poupança nacional (abençoado deficit que tudo justificas) vermos perderem-se, anualmente, milhões de euros em incêndios florestais? Para quando a criação generalizada de corporações de bombeiros profissionais?

O actual período de elevado nível de desemprego deveria ser aproveitado para, num esforço conjunto do poder local e central, a criação de verdadeiras corporações de sapadores bombeiros inseridas na tal política nacional de segurança.
Creio que esta seria uma iniciativa bem acolhida pelos próprios bombeiros voluntários (quantos, podendo, não optariam pela profissionalização) porquanto haverá sempre lugar para a sua capacidade de abnegação e altruísmo, que toda a sociedade lhes reconhece, num futuro em que pudessem operar integrados em equipas altamente treinadas.
Pois é, isto tudo é um sonho… Continua a ser mais barato manter as associações de bombeiros num estado de elevada indigência e sempre disponíveis a agradecer as parcas migalhas que os poderes estabelecidos (públicos e privados) distribuem nos momentos em que lhes é oportuno (leia-se benéfico) …

HIROSHIMA – A REFLEXÃO

A NÃO ESQUECER

Decorridos 60 anos desde a data do bombardeamento atómico sobre Hiroshima, continuamos a assistir a cíclicas, e compreensivas, manifestações de sentimento e preocupação pelo acontecimento.
Do acto (e da sua repetição decorridos 3 dias sobre Nagasaki) resultaram mais de meio milhão de mortos, alguns deles, em consequência da exposição a elevados níveis de radiação, dezenas de anos depois.
Sobre estes actos muito tem sido dito e escrito, quase sempre para recordar a catástrofe e justificar a sua inevitabilidade para apressar o final da II Guerra Mundial. Factos relevantes têm sido sistemática e ostensivamente esquecidos, como:
  • a previsão, formulada pela força aérea norte americana, de completa destruição de todos os alvos industriais, em resultado de massivos bombardeamentos aéreos, até Setembro ou Outubro de 1945;
  • a evidência dos serviços secretos americanos terem conhecimento da iminência da capitulação do Japão (havia várias semanas que aqueles serviços vinham descodificando mensagens inequívocas nesse sentido, bem como da tentativa japonesa de mediação junto da URSS);
  • as duas cidades escolhidas para alvos nucleares constituírem importantes centros industriais (mais Nagasaki que Hiroshima que juntava a este o facto de ser um importante alvo militar);

os quais levam a crer que o uso de armas nucleares aconteceu por razões bem diversas da piedosa intenção de poupar vidas humanas (não sei mesmo se as estimativas de baixas em resultado de um desembarque directo não terão sido empoladas).

Confirmando-se, como tudo parece indiciar, que o uso de armamento nuclear serviu apenas o duplo objectivo de garantir que os EUA seriam a única nação directamente envolvida no conflito a lograr concluí-lo com o aparelho produtivo intacto (que enormes vantagens não tiraram os americanos disto no período do pós-guerra quando se converteram nos fornecedores mundiais de bens e serviços) e mostrar aos soviéticos a superioridade nuclear americana (com resultados duvidosos porque os russos apenas precisaram de quatro anos para também aceder ao clube nuclear), esta será uma óptima oportunidade para reflectirmos sobre tempos que talvez nos esperem...

HIROSHIMA - A MEMÓRIA...

sexta-feira, 5 de agosto de 2005

AQUI ESTÁ UMA BOA FORMA DE ENCARAR PROBLEMAS…

O Publico de hoje noticia uma proposta da União Europeia ao Irão no sentido de colaboração com vista ao desenvolvimento do programa nuclear civil deste país.
Pondo de lado a polémica em torno da utilização, ou não, de programas nucleares para a produção de energia eléctrica, a proposta da União Europeia representa uma forma prática e inteligente de monitorar o desenvolvimento daqueles programas no Irão, procurando por esta via ultrapassar os receios de que venham a ser utilizados para a produção de armamento nuclear.
Conhecendo o nível de preocupação das potências ocidentais (EUA e UE) no que respeita aos riscos associados ao desenvolvimento de armas nucleares naquela região do globo e em particular o de Israel (estado que recorde-se já dispõe de armamento nuclear) não me espantaria que este volte a recorrer à estratégia de destruição do reactor antes da sua entrada em funcionamento.
Saudando o que aparenta ser uma boa acção diplomática (embora não entenda muito bem a participação do Reino Unido) espero não a ver literalmente destruída por uma acção dos “falcões” israelitas.

O LOBO EM PELE DE CORDEIRO

Segundo o Expresso on-line, Donald Rumsfeld, secretário de estado norte americano da defesa (cargo equivalente ao nosso ministro da defesa) admite que o exército americano enfrenta o grave dilema de manter uma força militar em território estrangeiro tentando que a mesma não pareça uma força de ocupação.

Fruto de uma intervenção militar no Iraque, sem sancionamento da comunidade internacional, contestada em praticamente todo o mundo árabe e alvo de sérias reservas de boa parte da Comunidade Europeia, os EUA enfrentam as dificuldades resultantes de uma política internacional irreflectida, alimentada pelos “falcões” e alicerçada numa separação entre forças do bem e do mal.

Como pode um estado, a pretexto da necessidade de impedir a outro a utilização de armas de destruição massiva (cuja existência prática nunca foi provada) proceder à sua ocupação e esperar que a respectiva população acolha as forças de ocupação como se de salvadores se tratassem.

Perante um cenário idêntico – intervenção no Vietname – a administração americana da época procurou sair de forma airosa do pântano em que convertera o sudoeste asiático fazendo eleger um governo local favorável aos seus interesses e pretensões. Tudo indica que irá tentar a mesma estratégia no Iraque actual embora a realidade indicie que cada vez mais as “ovelhas” já aprenderam a reconhecer os lobos, mesmo os melhor disfarçados...

quinta-feira, 4 de agosto de 2005

ESTAMOS TODOS A ARDER…



«Trinta e um incêndios estavam por circunscrever às 17h52, nos distritos de Aveiro, Beja, Braga, Bragança, Coimbra, Guarda, Leiria, Lisboa, Porto, Santarém, Vila Real e Viseu, de acordo com o Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil (SNPC).»

Lida esta notícia numa página do Portugal Diário não resisto a deixar aqui uma sugestão que muito raramente tem sido colocada sobre o que começa a tornar-se o dia a dia nos verões deste país.
Sendo verdade que:

  • os meios, humanos e materiais, se mostram insuficientes para combater rápida e eficazmente o número cada vez maior de fogos florestais;
  • as florestas e matas nacionais se encontram em estado de abandono, ou pelo menos, enorme negligência, fenómeno que ocorre quer nas áreas privadas, por absentismo ou incúria dos seus proprietários, quer nos parques nacionais;

estes são factos que podendo justificar os apelos das autoridades não os eximem às responsabilidades que efectivamente lhes cabem, que é a de procurar soluções que, se não puserem cobro ao flagelo, ao menos o reduzam a níveis muito, muito baixos…

Estando mais que provado que são insuficientes as acções de sensibilização para os cuidados que TODOS devemos ter com as florestas, que os poderes locais são impotentes para aplicar políticas de efectiva limpeza e manutenção das áreas florestais (seja porque no nosso país ainda se aceitam as atitudes irresponsáveis dos proprietários fundiários, públicos ou privados, que apenas servem para lançar, literalmente, achas para a fogueira), que a Justiça, por razões seguramente legais mas muito difíceis de entender por todos nós, acaba sentenciando os incendiários que a PJ tem detido a penas que não se traduzem sequer em períodos de efectiva detenção, parece-me justificada a necessidade de implementação de uma nova abordagem para este problema.

Porque não fazer como nos casos de homicídios aparentemente inexplicáveis formulando uma simples questão: A QUEM APROVEITAM OS INCÊNDIOS?
Apurados os potenciais “responsáveis” deverão ser suficientes a elaboração (caso ainda não exista) e efectiva aplicação de legislação que inviabilize as hipóteses de uns poucos ganharem muito, à custa de todos nós.

E já agora, dever-se-ia aproveitar a oportunidade para implementar uma política de correcta ordenação florestal privilegiando as espécies mais resistentes ao fogo, talvez assim não fosse tudo tão inglório...

quarta-feira, 3 de agosto de 2005

CONTINUAMOS COM A MANIA DAS GRANDEZAS

As notícias difundidas no último fim-de-semana de que o governo de José Sócrates pretende lançar um pacote de medidas destinadas a promover o acesso à Internet de banda larga, mereceram-me pouco mais que um sorriso. “Talvez venhamos a ter as escolas públicas minimamente equipadas nesta área”, pensei eu.

Aprofundando a leitura da notícia apercebi-me que se prevê a realização de investimentos na ordem dos 2,5 mil milhões de euros, com o objectivo de duplicar o número de utilizadores de Internet nos próximos cinco anos e conseguir triplicar o número de famílias com acesso à banda larga, voltei a sorrir imaginando o crescimento dos resultados das empresas do ramo: PT, Microsoft e outras...

Voltei a pensar no assunto quando hoje li na página do Diário Digital a notícia de que o governo indiano e a HCL Infosystem (empresa também indiana) tinham lançado um computador de baixo custo, menos de 200 euros, que inclui as funções mais básicas e imprescindíveis para principiantes (processador a 1 GHz, 128 MB de memória RAM, 40 GB de risco rígido, um monitor a cores de 15”, uma unidade óptica, teclado, rato e inclui aplicações básicas que funcionam com o sistema operativo Linux, como um processador de texto, uma folha de cálculo, uma ferramenta de apresentações, navegador, conta de correio electrónico e sistema de leitura áudio-vídeo), tudo isto com o objectivo de impulsionar a alfabetização digital.

É natural que a Índia, país do terceiro mundo, se veja obrigada a recorrer a um qualquer fabricante de equipamentos informáticos “caseiros”, sem garantia de qualidade e assistência pós-venda e, para cúmulo, equipados com um sistema operativo de utilização livre que qualquer um pode retirar da Internet. Portugal, pelo contrário, país membro da CE que apresenta índices de desenvolvimento, crescimento económico e bem-estar social que deixam as “Índias” deste planeta a anos-luz, longe de se preocupar com questões básicas como a aquisição de um equipamento informática, pretende triplicar o número de utilizadores da Internet, deixando às famílias portuguesas o ónus de adquirir equipamentos informáticos, sobredimensionados e com custos três vezes superiores, às multinacionais do ramo que as “obrigam” a adquirir/instalar software da Microsoft...

Se o Bill Gates teve conhecimento destas duas notícias estará seguramente a rir-se de nós enquanto faz uma estimativa grosseira dos milhões de dólares que irão engrossar a sua dilatada conta bancária.

terça-feira, 2 de agosto de 2005

HOMENAGEM


Decorreu no passado Sábado, em Santarém, a entrega do Galardão Cidadão do Ano 2004 atribuído pela Junta de Freguesia de São Nicolau a uma das figuras mais relevantes da cultura escalabitana – Carlos Oliveira, o "Chona".

Para quem não conhece o homenageado pode parecer exagero, mas sempre vos digo que para além de figura relevante no meio teatral, onde já desempenhou quase todos os papéis possíveis (actor, encenador, director de cena, autor e todos os outros…) tem sido ao longo de décadas a alma que deu vida a múltiplos projectos artísticos e que iniciou muitos jovens naquele mundo mítico.

Quem pode negar a importância dos Festivais Internacionais de Teatro e das Bienais de Palhaços que regularmente se realizam em Santarém? E a quem se devem? Ao "Chona", pois claro…

Enquanto amigo e enquanto alguém que com ele partilhou sonhos, não posso deixar de recordar que também Almeirim o viu colaborar no saudoso GATPA e lhe deve a criação do actual grupo “Narizes Perfeitos”.

Muito foi dito, naquele Sábado, sobre o papel do "Chona" e da sua importância para o Teatro e a Cultura, mas o mais bonito que ouvi foi uma jovem dizer-lhe no amplexo de um abraço: «O que aprendi não foi a faculdade que me ensinou, foste tu… "Chona"»

MUDANÇAS NA ADMINISTRAÇÃO DA CAIXA

O acontecimento não me mereceria grande destaque, uma vez que já todos estamos demasiado habituados à chamada “dança de cadeiras” sempre que se registam mudanças de governo.

Há porém algo que me parece merecedor de uma nota.

A administração agora demitida não estava com a data de validade já ultrapassada?

Outra coisa não se pode pensar de quem anuncia a sua demissão, a propósito da concretizada intenção do governo de Santana Lopes utilizar o fundo de pensões dos trabalhadores da Caixa para colmatar o défice público, com a mesma leviandade que dela rapidamente desiste.
Como podem os clientes da Caixa em particular e os cidadãos em geral depositar um mínimo de confiança em pessoas que aparentam gerir melhor a sua imagem que a das empresas/instituições que deviam servir?

Se acreditasse que foram questões de ordem ética que levaram o governo de José Socrates a proceder a esta mudança, perguntaria: Porque não mudar a totalidade dos administradores que colaboraram ou aceitaram aquela prática?

Será que para esta mini remodelação pesou a contabilização dos custos com as indemnizações a pagar (os últimos números adiantados apontam para a módica quantia de dois milhões de euros)? Tudo indica que sim, porque à controversa manutenção da ex-ministra Celeste Cardona juntou-se a nomeação do ex-secretário de estado Armando Vara (como já era Director o custo será menor...)?

Tanto quanto no mundo da política, também no da finança tem que se aplicar a máxima: “À mulher de César não basta ser séria, tem que o parecer...”

FIM DA “GUERRA” NA IRLANDA?

O “Le Monde” anunciava na sua edição de ontem a intenção do governo britânico “normalizar” a situação na Irlanda do Norte. Passe o eufemismo, cabeçalhos de notícias como este não deveriam ter lugar nos nossos meios de comunicação, mas poderão ilustrar o que parece estar a acontecer com o crescente clima de “normalização” das relações entre o IRA e o governo britânico.

Independentemente do cada que cada um de nós possa pensar relativamente ao conflito que há séculos (o desembarque da primeira vaga organizada de colonos ingleses protestantes data de meados do século XVII, durante o consulado de Oliver Cromwell) vem dilacerando aquele território - a simples referência à oposição entre católicos e protestantes parece-me redutora e pouco esclarecedora do real fenómeno que ali ocorre(u) - tudo o que de positivo possa ser feito para acabar com um conflito que dividiu gerações e gerações de irlandeses e ingleses, deverá ser recebido com o aplauso de todos os que entendam a coexistência política e cultural como a base de todo o desenvolvimento.

Mesmo correndo algum risco de deixar mal resolvidas as contradições entre os participantes nesta contenda, tudo o que o governo britânico possa fazer (revisão do programa de normalização das medidas de segurança, a reforma da legislação antiterrorista vigente que permita o regresso dos muitos paramilitares refugiados, a redução de contingentes militares, a contenção das atitudes mais radicais do sector unionista do reverendo Ian Paisley) será um importante contributo para a normalização da vida dos cidadãos irlandeses.

As notícias da progressiva redução e visibilidade do contigente britânico no território irlandês devem ser encaradas de forma muito prudente quando, Peter Hain, o ministro britânico para o Ulster é o primeiro a declarar que não espera que o Partido Democrático Unionista (liderado pelo reverendo Ian Paisley) venha a considerar a hipótese de reatar as negociações com o Sinn Fein (braço político do IRA e liderado por Gerry Adams) até à confirmação de provas sólidas da desactivação do seu braço armado.

Perante esta evidente posição de apoio às teses protestantes radicais dificilmente a Comissão Internacional Independente de Desarme (entidade que procura garantir no terreno a existência de condições para a concretização das negociações) será ouvida e acatada por aquele grupo.

Mantendo-se o clima de desconfiança fácil será a qualquer das alas radicais (católica ou protestante) reacender o conflito num momento em que isso sirva melhor os seus interesses... ou os de terceiros.

segunda-feira, 1 de agosto de 2005

LIBERDADE DE IMPRENSA, LIBERDADE... LIBERDADES!

Acabei de ler um artigo de opinião no Diário de Notícias de hoje sobre a prisão da jornalista norte-americana Judith Miller.

Independentemente da opinião sobre a justeza da sua decisão – ocultação da fonte de uma notícia reveladora da identidade de um agente da CIA (por acaso a mulher do diplomata norte americano Joseph Wilson que dias antes tinha publicado um artigo demolidor para as pretensões belicistas de Jorge W. Bush que a própria Judith ajudou a fundamentar e difundir) – fica claramente incompreensível a ordem de detenção por parte de um órgão de soberania de um estado que persiste em desrespeitar a legalidade internacional representada pelo Tribunal Penal Internacional.

Com que legalidade pode qualquer estado colocar-se acima da lei geral? Pior ainda quando esse é o estado que pretende apresentar-se como referência global e estado-polícia de todos e cada um de nós.

Que cumplicidades têm permitido aos EUA persistir na prática de uma política internacional baseada nas mais primária das concepções: quem não está comigo está contra mim!

Mesmo correndo o risco de me julgarem petulante, creio que a resposta reside no silêncio de todos nós... Cada vez revela maior acuidade o velho ditado: QUEM CALA CONSENTE!

Até quando se manterão silenciosas as nossas consciências?

REVOGAÇÃO DE PRÉMIOS NOBEL

Recordo a leitura, há uns dias, de um artigo que noticiava a existência de uma campanha visando revogar o Prémio Nobel da Medicina atribuído a Egas Moniz em 1949. Baseiam-se, os promotores da iniciativa, no facto de ser público o reduzido sucesso da técnica cirúrgica – lobotomização – desenvolvida por aquele médico e de muitos dos pacientes a ela submetidos terem acabado os seus dias em pior situação que a que viviam há data do tratamento, ao mesmo tempo que esquecem o seu importante trabalho no desenvolvimento da angiografia cerebral. Não sendo especialista do foro médico ou cirúrgico, não posso deixar de recordar outros casos em que galardoados com o Prémio Nobel viram mais tarde os trabalhos que o justificaram ser alvo de grande contestação ou mesmo de confirmação prática do seu fracasso.

Como claro exemplo desta realidade temos o Prémio Nobel da Economia em 1976 – Milton Friedman – cujas teorias monetaristas foram aplicadas, de forma sistemática, nessa década na América Latina e que se revelaram ineficazes para conduzir, como pretendia o seu autor, ao desenvolvimento e crescimento económico dos respectivos estados (o caso mais gritante terá sido o do Chile que alcançou um crescimento de 35% do PNB à custa de um aumento da taxa de desemprego (de 4,3% passou para 22% e de uma quebra nos salários reais de 40%).

Mal andam os que esquecem que o mundo é constituído de mudança…

TEXTO DE ABERTURA



Resulta esta iniciativa do desejo de fomentar o debate sobre questões que julgo merecedoras de reflexão e até de crítica. Estendendo o conceito de Carlo Collodi, parece-me fundamental que cada um de nós precisa de um “grilo” activo e acutilante para não deixarmos morrer a nossa capacidade de questionarmos o que dia a dia ocorre em nosso redor.

Numa sociedade crescentemente condicionada para o individualismo e para o “politicamente correcto” mas onde simultaneamente o volume de informação é cada vez maior, urge despertarmos o “grilo” que há em cada um de nós e debatermos abertamente a realidade que nos rodeia (ou com a qual nos procuram rodear) e a sua ética.