terça-feira, 12 de setembro de 2006

NINE ELEVEN - PARTE III

POLÍTICA E SONDAGENS NOS EUA

Numa sociedade do tipo ocidental dita democrática existem mecanismos que permitem aferir da validade e receptividade das populações a problemas como o que está em análise.

Sondagens realizadas ao longo do ano junto da população americana dão uma ideia de como estará a evoluir a percepção dos acontecimentos do 11 de Setembro.

De acordo com um trabalho conjunto da Scripps Howard e da Universidade do Ohio, sobre os polémicos pormenores do 11 de Setembro de 2001, constata-se que:

  • 12% da população revela-se convicta que o Pentágono não foi atingido por um avião comercial, mas sim por um míssil;
  • 16% são de opinião que a derrocada das torres do World Trade Center não resultou do embate das aeronaves, mas sim da utilização de explosivos;
  • 36% declaram que a administração Bush está implicada, de forma activa ou passiva, na realização dos atentados.

Um outro estudo, realizado pela Zogby International, entre 12 e 16 de Maio de 2006, conclui que:

  • 42% dos americanos não estão convencidos pelas conclusões do relatório da Comissão Kean;
  • 44% pensam que George W Bush instrumentalizou os atentados para justificar a guerra;
  • 45% gostavam de ver reaberto o inquérito ao 11 de Setembro.

Estes resultados ganham outra dimensão quando se pediu às pessoas sondadas indicações sobre a opinião de pessoas das suas relações; desta formalização, que permite recolher sensibilidades e simultaneamente ultrapassar barreiras psicológicas associadas à delicadeza das questões, resultou um crescimento de cerca de 20% nas distribuições iniciais, fazendo com que aqueles valores passem a situar-se acima dos 50%.

Analisando com maior pormenor algumas das questões do inquérito:

  • Bush explorou os ataques do 11 de Setembro para justificar a invasão do Iraque?
  • Pensa que o governo dos EUA e a comissão de inquérito sobre o 11 de Setembro conduziram uma operação de dissimulação?
  • Tem conhecimento do colapso da Torre 7 do WTC e se sim acha que a comissão de inquérito também o devia ter estudado?
  • Os ataques do 11 de Setembro foram suficientemente estudados ou acha preciso reabrir o inquérito?

e a distribuição das respectivas respostas:

constata-se uma distribuição equilibrada sendo apenas de destacar a desproporção entre os que contestam a ligeireza do relatório apresentado pela Comissão Kean quanto às causas da derrocada da Torre 7. Esta distribuição repete-se quando analisados os resultados em função da distribuição por segmentos de rendimento, da etnia e do local de residência dos inquiridos, embora pareça prevalecer uma tendência para que os americanos com maiores rendimentos, os que habitam as regiões menos industrializadas e os que aspiram a integrar a elite governativa sejam os que manifestam menores dúvidas e discordâncias.

Paralelamente foi ainda avaliada a qualidade do trabalho informativos dos meios de comunicação a respeito do 11 de Setembro

constatando-se que 55% dos inquiridos classificam aquele trabalho como sofrível ou mau. Este resultado poderá reflectir o facto de muitos dos que aceitam as conclusões da Comissão Kean não encontrarem na imprensa a capacidade para se contrapor de forma eficaz às dúvidas que têm vindo a surgir.

Estes resultados não diferem muito dos obtidos noutras sondagens concretizadas em momentos diferentes. Assim, segundo um estudo da Opinion Dynamics, realizado em Janeiro de 2006 para a Fox News, 30% dos americanos atribuem nota negativa à actuação do Supremo Tribunal de Justiça. Outra, realizada pela Gallup em Abril do mesmo ano para o USA Today, conclui que 56% dos americanos consideram que o seu presidente é desonesto e que a actual administração foi formada entre “amiguinhos” e, pior ainda, 61% são de opinião que o seu governo não se preocupa com eles e 83% afirmam que o Congresso, no seu conjunto, é mais ou menos corrupto. Estes dados são corroborados por uma sondagem realizada em Fevereiro pelo Pew Research Center e pelo Princeton Survey Research Associates, segundo a qual 41% dos eleitores americanos afirmam que o seu representante ou o senador são corruptos; a já referida da Gallup assegura que 76% consideram o Congresso como pouco digno de confiança.

Estes resultados não são extraordinariamente diferentes dos que se registam noutros países ocidentais e permitem estabelecer um quadro da situação que torna particularmente importante a avaliação de um outro dado: a informação.

O TERRORRISMO E A IMPORTÂNCIA DA INFORMAÇÃO

Após o alerta lançado no início de Agosto deste ano pelos serviços de segurança ingleses, segundo o qual um grupo terrorista se preparava para fazer explodir aviões mediante o recurso a explosivos líquidos e cujo resultado mais visível foram os enormes atrasos sofridos pelas ligações aéreas com partidas e destinos para aquele país, voltou no início de Setembro a ser notícia o desmantelamento de mais uma rede terrorista a operar num estado europeu.

Os meios de comunicação desdobraram-se em ávidas entrevistas a responsáveis governativos e de segurança, bem como a outras personalidades influentes na opinião pública.

Em termos práticos os diferentes aparelhos policiais detiveram mais umas dezenas de cidadãos islâmicos, encontraram durante os processos de busca agendas de contactos com outros operacionais da Al-Qaeda (mortos, detidos ou em liberdade) e assim fundamentaram a necessidade de intervenção para garantir a segurança dos respectivos cidadãos. Após a Espanha, o Reino Unido, a França e a Alemanha, eis que o último país atingido pelo frenesi securitário é a Dinamarca; já anteriormente sujeito a polémica por via dos célebres “cartoons” que os muçulmanos classificaram de blasfemos, surge agora como mais um ponto no mapa das intentonas terroristas e a prova viva de que a «luta contra o terror», tal como a enunciou e tem vindo a praticar a administração norte-americana, terá que continuar a constituir o “leit motiv” dos estados verdadeiramente preocupados com a defesa da civilização ocidental.

Não pretendo defender a ideia que os estados abdiquem da sua própria segurança interna (e da dos seus cidadãos), mas não posso deixar de manifestar a minha estranheza pelo facto dos meios ocidentais de comunicação se apressarem a noticiar as detenções e as provas incriminatórias encontradas, mas raramente tenham revelado a mesma rapidez, sagacidade e justiça informativa sempre que os diferentes tribunais a que os alegados terroristas são apresentados determinam a respectiva libertação por insuficiência de provas ou simples condenações por delitos de direito comum ou actos não relacionáveis com uma rede global de terrorismo. Esta forma enviesada de informação, além de pouco contribuir para o esclarecimento do público, apenas serve para alimentar o medo que justifica os atropelos às liberdades individuais que interna e externamente continuam a ser praticados sobre comunidades como a islâmica.

Os mesmos meios de comunicação que tanto têm feito para difundir os libelos acusatórios da administração Bush e dos seus apoiantes, a par com os anátemas que Bin Laden e os seus anunciados acólitos regularmente lançam sobre o ocidente, poucas ou nenhumas oportunidades têm proporcionado, idênticas em espaço e tempo, aos muitos que pugnam pelo entendimento e pela difusão do conhecimento cultural e intelectual “dos outros”.

Integrados numa estratégia concertada de desinformação, ou fruto da pressão das tiragens e das sondagens, os meios de comunicação ocidentais têm participado alegremente numa campanha de ocultação e escamoteamento de indícios e factos que possam contradizer as teses mais belicistas. De que outra forma se pode entender a o silenciamento de factos tão preocupantes como a ausência de formalização de acusações judiciais à maioria dos detidos nas constantes acções policiais, a divulgação em grandes parangonas de aviões obrigados a aterragens forçadas motivadas por suspeitas entre os passageiros, que mais tarde se revelam infundadas e, por último, da enorme falta de isenção com que a generalidade dos órgãos de informação ocidental cobriu a recente invasão israelita do Líbano, bem como das causas que a antecederam.

Mesmo sem querer entrar na polémica do muito que culturalmente separa o ocidente judaico-cristão do oriente muçulmano, continuo convicto que, extremistas à parte, muito existe de comum entre povos que partilham uma raiz religiosa e cultural do tipo monoteísta. O sentimento de medo que de forma persistente e sistemática tem vindo a ser instilado nas populações ocidentais apenas terá igual na forma como os muçulmanos radicais assimilam tudo o que for ocidental a blasfemo. É óbvio que o ainda bem presente sentimento anticolonial dos povos islâmicos face ao ocidente constitui um bom argumento para uma campanha de diabolização deste, mas também não é menos verdade que apenas uma reiterada prática de diálogo e respeito entre povos, culturas e valores dissipará este sentimento.

Ora o que temos vindo a assistir (salvo raras e honrosas excepções) tem sido precisamente o inverso; em lugar da construção de pontes de diálogo e de entendimento têm-se erguido barreiras de ódio e incompreensão. A generalidade dos governos ocidentais se não tem alinhado na política belicista americana pouco ou nada tem feito para se lhe opor com eficácia e assim temos assistido desde o 11 de Setembro de 2001 a um crescendo de conflitos internacionais – as invasões do Afeganistão e do Iraque – e locais – o ataque israelita ao Líbano – que além de apresentarem uma muito duvidosa ligação com a luta contra o terrorismo ainda resultaram numa evidente degradação da situação das respectivas populações, no fortalecimento dos incitadores contra o ocidente e no aumento do número de potenciais perpetradores de futuros atentados.

O exclusivo recurso a uma política de violência e destruição e a ausência de uma política de aproximação e de intercâmbio de conhecimentos (com vista à redução de receios e diferendos) tem conduzido a que o elo mais fraco desta cadeia (as populações muçulmanas) esteja cada vez mais a ser condicionado a reagir da forma pretendida – transformando-se em bombista suicida. Esta forma perversa de designar o culpado e actuar de modo premeditado para o condicionar a reagir como desejado e assim justificando a acusação inicial, se não prefigura qualquer figura jurídica englobável no conceito de crime, constitui seguramente uma via não ética de fazer política.

Pior do que ignorar ou escamotear as razões que possam assistir para fundamentar um crescente sentimento anti-ocidental entre as populações muçulmanas é estimulá-lo mediante políticas e acções meramente provocatórias que em caso algum poderão conduzir a outro cenário que o do agravamento das tensões.

Enquanto os esforços isolados das vozes que de uma parte e da outra se erguem para desmontar estes, e outros, argumentos falaciosos e apelar à necessidade de diálogo continuarem a ser ignoradas pelos poderes estabelecidos e pelos meios de comunicação que estes controlam – em países como os EUA questionar abertamente as razões das acções militares contra os países islâmicos é na generalidade apelidado como traição – dificilmente se poderá esperar uma evolução no sentido da normalização das relações entre os povos. E o mais curioso de tudo isto é que esta paranóia colectiva se tem vindo a desenvolver principalmente nos países europeus onde é forte e antiga a presença de comunidades islâmicas, mas também crescente a actividade de movimentos de cariz nacionalista e xenófobo.

CONCLUSÃO

As circunstâncias por explicar que rodeiam os acontecimento de 11 de Setembro de 2001, a fragilidade de muitas das tentativas oficiais de explicação, a crescente pressão a que os contestatários internos estão a ser alvo nos EUA, a coincidência entre as datas de outros atentados atribuídos a grupos radicais islâmicos e importantes acontecimentos a nível mundial ou local, justificam que nesta data a opinião pública faça sentir, a par com o repúdio pelo acto e pelo número de vidas humanas sacrificadas, a necessidade de esclarecimento total dos acontecimentos e apuramento das respectivas responsabilidades.

Mesmo que não venham a confirmar-se na íntegra as alegadas motivações económicas para o 11 de Setembro que foram recentemente divulgadas num documentário, que a própria estação rotulou de polémico, exibido há uns dias na RTP2 (possível de ver ou rever aqui), algumas das vantagens já concretizadas, e aqui enunciadas, poderão ser suficientes para o justificar.

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