quarta-feira, 18 de abril de 2007

A HIPOCRISIA DO HORROR

Na sequência do massacre de uma trintena de pessoas num “campus” universitário americano (mais um “incidente” na sequência de outros, como o de Columbine que em 1999 ceifou a vida de 12 alunos do liceu local) a imprensa prontamente fez eco das declarações de George W Bush; de acordo com o PUBLICO a porta-voz da Casa Branca informou que o presidente “está horrorizado e a sua primeira reacção foi de profunda preocupação com as famílias das vítimas, as próprias vítimas, os estudantes, os professores e todos na Virgínia que lidaram com este incidente chocante”.


Louváveis e muito humanas declarações não fossem elas atribuídas ao presidente de um país que desde meados do século passado tem vivido de uma economia de guerra (a seguir à devastadora II Guerra Mundial, os EUA não hesitaram em envolver-se em mais duas guerras regionais – Coreia e Vietname - em apoiarem sanguinários golpes militares em África e na América Latina e mais recentemente procederem à invasão do Afeganistão e do Iraque) e mantido o princípio de venda livre de armas automáticas no seu território.

Se sempre será possível encontrar alguma explicação para aqueles conflitos, responsáveis por milhões de mortos, é cada vez mais difícil encontrar justificação para esta sucessão de mortes absolutamente gratuitas e inúteis, salvo para os subscritores de uma iníqua política patrocinada pela NRA – National Rifle Association, que se tem mantido inflexível na defesa do direito à posse de arma, sob o argumento de se tratar de um exercício de liberdade protegido pela Constituição Americana.

A aparente estranheza de tudo isto ganhará novos contornos se recordarmos mais dois pormenores:

  1. a enorme contradição que existe na defesa de um proclamado direito constitucional de uso e porte de arma quando os EUA são hoje um país onde os princípios de liberdade de expressão e de opinião têm sofrido sucessivos golpes às mãos dos poderes públicos desde o 11 de Setembro de 2001;
  2. a incapacidade que a generalidade dos cidadãos americanos revelam em associar a crescente frequência destes massacres com as políticas governamentais de glorificação e fomento das intervenções bélicas;

perante isto, as conhecidas ligações entre a administração Bush e a NRA não serão mais que apenas uma pequena justificação para a manutenção de um “satus quo” particularmente benéfico aos objectivos e necessidades do “lobby” militar-industrial que de forma mais ou menos evidente tem dirigido o país nas últimas décadas.

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