quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

ELE HÁ COISAS…

Quem no início deste mês pensou que a notícia do PUBLICO informando que a «Bélgica deverá ter governo em funções para a semana» constituía o encerramento dum ciclo da vida daquele país, marcado por um longo hiato governativo de 535 dias[1], teve quinze dias depois de voltar a olhar para o problema sob outra perspectiva, pois quando o mesmo jornal informou que «Moody’s corta “rating” da Bélgica», não pode ter deixado de pensar que afinal a primeira notícia marcava era o início dum novo ciclo: o ciclo infernal da política de “austeridade expansionista”.

Isso mesmo pode ser confirmado quando, no mesmo dia em que era conhecido o corte do “rating”, surgiram notícias de qua a «Bélgica tem de fazer “esforços importantes” para baixar défice».


Ora o curioso de toda esta situação é que durante o ano e meio em que a Bélgica viveu com um governo de gestão ninguém (nem agências de “rating” nem de notícias) notou o “perigo” que o país atravessava, mas logo que houve notícia do acordo para a constituição dum governo chefiado por Elio di Rupo, de imediato, a emergência do controlo do défice passou a constituir a primeira preocupação de todos os bem pensantes. Disto mesmo se fizeram eco em artigos de opinião separados o eurodeputado Rui Tavares[2] e John Lanchester (editor da London Review of Books) no artigo «The Non-Scenic Route to the Place We’re Going Anyway» e que inicia assim:
«Geralmente os dados trimestrais do PIB não tendem a fazer rir quem os estuda. No entanto, o conjunto mais recente constitui uma excepção, apesar do facto do quadro geral pouco animador e difusor de pessimismo económico. Em vez do explosivo surto de crescimento que historicamente acompanha a saída com êxito duma recessão, temos um crescimento do Reino Unido com uns decepcionantes 0,2 por cento, anémico nos EUA com 0,3 por cento e o número de 0,2 por cento para a média da zona do euro. Este número inclui o surpreendente e alarmante 0,1 por cento alemão, o desesperadamente pobre 0 por cento francês e, pasme-se, o agradavelmente surpreendente 0,7 por cento belga. Por que é que, para quem está a seguir a história, isto é tão hilariante? Porque a Bélgica não tem um governo. Graças ao impasse político em Bruxelas, não tem um há 15 meses. Nenhum governo significa nenhuma das coisas que todos os outros governos estão a fazer: não há cortes e não há pacotes de "austeridade". Na ausência de alguém com um mandato de corte e queima, os gastos do sector público belga continuam como sempre foram, daí o crescimento contínuo da sua economia. Acontece que, do ponto de vista económico, na crise actual, nenhum governo é melhor do que um governo - qualquer governo existente».

Depois disto será preciso acrescentar, como escreveu o NEGÓCIOS, que «Bélgica ganha governo mas perde vigor económico»?



[1] Este período constitui o mais longo de que há memória algum país tenha estado sem governo.
[2] O artigo referido intitula-se «A VINGANÇA DO ANARQUISTA» e não foi publicado na versão on-line.

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