terça-feira, 22 de maio de 2012

A DIPLOMACIA DE RELVAS


Mesmo descontando o efeito do inevitável aproveitamento político, parece cada vez mais difícil de negar a evidência de fundadas dúvidas sobre a relação entre políticos, “espiões” e jornalistas.

No centro de mais esta polémica estão o ex-director do SIED, Jorge Silva Carvalho, o actual ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, e Maria José Oliveira, jornalista do PUBLICO. Tudo começou com as dúvidas levantadas a propósito duns contactos (SMS e mails) entre o ex-espião e o actual ministro que originaram até uma audição parlamentar a aquele membro do governo, na qual «Relvas admite ter recebido propostas de nomes para as secretas», mas «…nega troca de informações com espião»; óbvia matéria de notícia, estavam criadas as condições para a entrada no “triângulo” de Maria José Oliveira que acusa agora Miguel Relvas de ameaças.

 


A acusação de que Miguel Relvas terá ameaçado com um “blackout” noticioso do governo contra o jornal e divulgar detalhes da vida privada da jornalista Maria José Oliveira, prontamente negada pelo gabinete do ministro, acabou por ver-se confirmada quando foi anunciado que «Miguel Relvas pede “desculpa” ao “Público”»[1] e se nunca foram especificamente referidas as ameaças de natureza pessoal, pouco custa acreditar que na confissão da ocorrência da ameaça contra a publicação não esteja implícito o reconhecimento da segunda.

Naturalmente, não têm faltado as manchetes e os comentários a este sórdido acontecimento[2], que, como se não bastasse a gravidade dum governante proferir ameaças contra a liberdade de imprensa, ainda se fica a saber que nos meios do poder se consideram irrelevantes as tentativas de pressão de altas figuras de anteriores governos[3] e ainda mais normal que cidadãos sejam impunemente ameaçados de devassa pública da sua vida privada

Pode-se discutir se a questão do “relacionamento” entre Miguel Relvas e Jorge Silva Carvalho constitui, ou não, assunto de dimensão política, até, como se interroga Camilo Lourenço no NEGÓCIOS, se «Miguel relvas tem algo a esconder?», o que não se pode é aceitar em silêncio e, como tudo indica a notícia de que «Passos Coelho defende Miguel Relvas no caso "Público"» sem que nenhumas consequências sejam extraídas da inadmissível actuação intimidatória dum membro do governo, para mais quando este tipo de comportamento se repete governo após governo.


[1] O pedido de desculpas foi noticiado em primeira mão nesta NOTA DA DIRECÇÃO do PUBLICO.
[2] Cujo desenrolar pode, em certa medida, ser acompanho numa Nota da Direcção do PUBLICO, oportunamente intitulada: «Miguel Relvas, o jornalismo e o caso das secretas».
[3] Pelo menos é o que pode inferir-se da notícia de que «Relvas não considerou "relevante” informar Passos sobre mensagens de Silva Carvalho».

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