quarta-feira, 27 de junho de 2012

O CARROSSEL SÍRIO


Embora a semana se tenha iniciado com a oficialização dos pedidos de resgate espanhol e cipriota, se venha a concluir com mais uma cimeira europeia e o cenário de crise em torno da dívida pública europeia continue muito longe de augúrios positivos, talvez a situação mais preocupante ainda seja a que se vive no Médio Oriente e em especial no território que continua a ser um ponto charneira na região: a Síria.

Localizada a sul da Turquia e entre Israel e o Iraque, a Síria moderna continua a apresentar uma posição geoestratégica determinante na região do Médio Oriente. Depois de ter sido um ponto de confluência de algumas das mais importantes rotas comerciais entre o Ocidente e o Oriente e ponto central do antigo Crescente Fértil (região que se estendia desde o valo do Nilo até às bacias do Tigre e do Eufrates e que apontada como o berço da sedentarização humana viu florescer civilizações como a egípcia, a suméria, a persa) volta hoje a ser o centro de atenções das principais potências.

Enquanto no Egipto se assiste à inevitável ascensão da Irmandade Islâmica – que embora enquadrada pela superestrutura militar não deixa de causar preocupação ao vizinho Estado de Israel (embora desmentida, uma das primeiras notícias a circular após o anúncio da eleição do candidato islâmico foi que Mohamed «Morsi quer aprofundar laços com Teerão, Israel dá sinais de nervosismo») e na própria Europa os serviço de informação ingleses (MI5) não escondem os receios de que a “Primavera Árabe” constitua uma nova ameaça terrorista (a notícia publicada pelo LE MONDE pode ser lida aqui) –, na Líbia e restante região do Maghreb a “Primavera Árabe” oscila entre o esquecimento e a eclosão de novos focos de conflito, é na Síria que se desenrolam os últimos episódios da intricada relação entre as facções islâmicas (sunitas versus xiitas) e as potências como os EUA e a Rússia.

É precisamente neste contexto que se insere o incidente com o avião turco que a antiaérea síria derrubou na passada semana e que originou a notícia que «Turquia pede reunião urgente da NATO por causa de jacto abatido pela Síria» e a esperada reacção de «Com o apoio da NATO, Turquia lança aviso à Síria».

Num verdadeiro carrossel de informação e contra-informação, diz-se que a «Turquia queixa-se à ONU de “acto hostil” da Síria», embora seja do domínio público que «Ancara diz que avião militar turco poderá ter violado espaço aéreo sírio» enquanto, naturalmente, «Damasco reafirma que avião turco violou a soberania síria».

Para apimentar ainda mais a polémica (ou para melhor servir os interesses de quem incentiva a escalada de violência, questão que procurei abordar há dias no “post” «O SOFRIMENTO SÍRIO») eis que após a notícia da deserção dum piloto aviador para a Jordânia surge agora a informação que «Altas patentes do exército sírio desertaram para a Turquia», num claro prenúncio de que a abertura duma nova frente militar poderá estar para breve e numa confirmação de que os verdadeiros senhores do carrossel não serão apenas os russos…


…como quer fazer crer a imprensa ocidental, antes a potência que está em vias de perder a posição hegemónica de que tem beneficiado – os EUA – potências emergentes, como a Rússia e a China e as potências regionais – Israel, Irão e Turquia – que poderão não resistir à tentação (ou ás pressões) para despoletarem um conflito regional, tanto maiores quanto a região se localiza bem no centro da disputa pelas fontes de gás natural (sendo que o Mediterrâneo se perspectiva como uma das mais ricas) e pelas suas redes de distribuição.

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