terça-feira, 11 de setembro de 2012

A PROPÓSITO DO 11 DE SETEMBRO


Assinala-se hoje mais um aniversário, o décimo primeiro, sobre o atentado de Nova York que os americanos prontamente atribuíram aos radicais islâmicos da Al-Qaeda e que serviu para justificar as invasões do Afeganistão e do Iraque.

Como se tornou hábito, não têm por estes dias faltado na imprensa nacional e estrangeira reminiscências e evocações sobre os acontecimentos, embora continue por explicar cabalmente o que de facto aconteceu e quem nele esteve (ou não) envolvido.


Incrível ou não, a principal democracia planetária continua sem produzir uma explicação que não insulte a inteligência dos seus ouvintes; mas não é sobre isso que hoje me proponho reflectir[1], antes sobre dois artigos/notícias que duma forma ou doutra remetem para consequências do 11 de Setembro. Um, assinado por Maria João Tomás, foi publicado há dias no DN sob o sugestivo título de «A ASCENSÃO DOS SALAFITAS, 11 ANOS APÓS O 11 DE SETEMBRO» e levanta a interessante questão do actual sucesso do movimento religioso (salafismo) que esteve na origem da Al-Qaeda; o outro encontrei-o na página internet ALTER INFO, sob o título «AUX USA ON A DÉJÀ PRÉVU UN MOYEN ORIENT SANS ISRAEL», cuja tradução aqui deixo por constituir uma importante peça jornalística sobre as relações de Israel com o Médio Oriente e o seu fundamental aliado, os EUA:
«Nos EUA já se previu um Médio Oriente sem Israel

Enquanto Paris, Londres e Berlim tomam estupidamente os seus desejos como realidade e planificam uma Síria pós-Assad, em Washington já se começou a antever o depois de Israel, num relatório intitulado "Preparing For A Post Israel Middle East" (Preparando-se para um Oriente Médio Pós Israel). Esta análise em 82 páginas, foi realizada a pedido da comunidade de informações dos EUA que consiste em nada menos que 16 agências cujo orçamento anual superior a 70 mil milhões de dólares. O que demonstra que o desaparecimento do regime judeu-sionista está a ser seriamente ponderado em Washington e não apenas em Teerão.

Este documento "Preparing For A Post Israel Middle East", concluiu que os interesses nacionais dos EUA e de Israel diferem profundamente. Os autores do relatório afirmam que Israel é actualmente a maior ameaça aos interesses nacionais dos Estados Unidos porque a sua natureza e as suas acções impedem relações normais entre os Estados Unidos e os países árabes e muçulmanos, e de forma crescente com a comunidade internacional. Este estudo foi realizado a pedido da comunidade de informações dos EUA que inclui 16 agências com um orçamento anual de 70 mil milhões de dólares. A comunidade de informações inclui os Departamentos da Marinha, do Exército, e da Força Aérea, o corpo de fuzileiros, a Guarda Costeira, o Departamento de Defesa e as agências de informações, os departamentos de Energia, Segurança Interna, do Tesouro, a agência anti-drogas, o FBI, a Agência de Segurança Nacional, a agência de informações geo-especial, a agência de reconhecimento nacional e a CIA.

Entre as conclusões deste relatório contam-se:
·      Israel, dada a sua beligerância e a ocupação brutal, não pode ser salvo, como o não pode o regime do apartheid na África do Sul, mesmo quando Israel foi o único país "Ocidental " a manter relações diplomáticas com a África do Sul e o último país a aderir ao boicote antes do regime entrar em colapso em 1987.
·           A liderança israelita está cada vez mais afastada das realidades políticas, militares e económicas do Médio Oriente ao aumentar o seu apoio aos 700.000 colonos ilegais que vivem na Cisjordânia ocupada.
·           A coligação de governo pós-trabalhista do Likud, cúmplice e fortemente influenciada pelo poder político e financeiro dos colonos, irá enfrentar mais e mais manifestações civis internas, situação com a qual o governo dos Estados Unidos não se deve envolver.
·          A Primavera Árabe e o despertar islâmico lançou em grande medida muitos dos 1,2 mil milhões de muçulmanos e árabes a lutar contra o que uma larga maioria considera uma ilegal imoral e insustentável ocupação europeia da Palestina e da população indígena.
·      O poder árabe e muçulmano que se expande rapidamente na região, como é evidenciado pela Primavera Árabe, o despertar islâmico e a ascensão do Irão, ocorre simultaneamente – ainda que pré-existente – com o declínio do poder e da influência norte-americana e apoio dos Estados Unidos a um Israel belicoso e opressivo torna-se impossível de defender ou implementar, face aos interesses nacionais dos Estados Unidos, incluindo a normalização das relações com 57 países islâmicos.
·   A massiva interferência israelita nos assuntos internos dos Estados Unidos por meios de espionagem e de transferências ilegais de armas e que inclui o apoio a mais de 60 organizações "maiores" e a cerca de 7.500 funcionários americanos que obedecem às ordens de Israel e tentam intimidar a impresna e organizações do governo dos EUA, e não deve ser tolerada.
·     O Governo dos Estados Unidos já não têm os recursos financeiros nem apoio popular para continuar a financiar Israel. Já não é possível aumentar os mais de 3 biliões de dólares de dinheiro dos contribuintes, directa e indirectamente pagos a Israel desde 1967, quando aqueles já não apoiam o envolvimento militar dos EUA no Médio Oriente. O público americano já não apoia o financiamento e as guerras dos EUA amplamente entendidas como ilegais e em nome de Israel. Esta visão é cada vez mais comum na Europa, na Ásia e na generalidade da opinião pública internacional.
·       As infra-estruturas de ocupação segregacionista de Israel são a prova de discriminação legalizada e de sistemas de justiça cada vez mais distintos e desiguais, que não devem ser directa ou indirectamente financiados pelos contribuintes norte-americanos ou ignorados pelos governos dos Estados Unidos Estados.
·       Israel falhou como o Estado democrático proclamado e o apoio financeiro e político dos EUA não vai mudar a sua deriva como um estado pária internacional.
·    Apoiados pelo governo de Israel, que se tornou seu protector e parceiro, os colonos judeus manifestam um racismo cada vez mais violento desenfreado na Cisjordânia.
·     É cada vez maior o número de judeus americanos que são contra o sionismo e as práticas israelitas, incluindo assassinatos e brutalidade contra os palestinos que vivem sob ocupação, vendo-os como uma violação flagrante do direito americano e internacional e levantando questões no seio da comunidade judaica americana tendo em conta a responsabilidade de proteger os civis inocentes que vivem sob ocupação.
·         Oposição internacional a um regime cada vez mais separatista sustenta-se na defesa dos valores humanitários americanos ou no âmbito das relações bilaterais dos Estados Unidos com 193 países membros da ONU.

O relatório conclui com a recomendação de evitar alianças estreitas a que se opõe a maioria do mundo e que condenam os cidadãos americanos a arcar com as consequências.

Obviamente Israel apressar-se-á a denunciar o relatório cuja publicação está para breve e colocar pressão sobre os dois candidatos na eleição presidencial americana, Obama e Romney, para ver qual dos dois minimizará mais aquelas conclusões, ou prometerá o arquivá-lo e aumentar a ajuda financeira e militar à entidade colonial judaico-sionista que será o coveiro do Império Americano.
Mireille Delamarre»

e por proporcionar uma outra visão do pós 11 de Setembro de 2001, num mundo onde as cicatrizes continuam abertas e quando poderemos vir a assistir a uma completa invesão duma realidade que se insiste em dar por garantida.



[1] Quem ainda o não tenha feito, ou se sinta com disposição ou curiosidade, pode, a título de exemplo, recordar alguns dos “posts” antigos que dediquei ao assunto e dos quais destaco: «NINE ELEVEN – PARTE I», «NINE ELEVEN – PARTE II», «NINE ELEVEN – PARTE III», publicados em Setembro de 2006 e «11 DE SETEMBRO DE 2001» publicado um ano depois.

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