sábado, 23 de março de 2013

TURISTA INTENCIONAL


Será de estranhar que na semana em que se assinalou o décimo aniversário da invasão norte-americana do Iraque as atenções se tenham reorientado para aquela zona do Mundo?

A visita oficial (a primeira de sempre) de Obama a Israel terá sido ditada por uma possível agudização da crise nuclear iraniana ou pelo recrudescimento da violência na vizinha Síria (aliada tradicional do Irão), mas nunca pela velha questão palestiniana. Se há quatro anos Obama podia ser visto pela generalidade das populações palestinianas como possível agente de mudança no impasse israelo-palestiniano, hoje ocupa seguramente um lugar marginal nesse capítulo, tanto mais que «Obama visita Israel e Cisjordânia sem um plano de paz para o Médio Oriente», facto que levou Thomas Friedman, o conhecido editorialista do NEW YORK TIMES, a escrever no seu artigo «Mr. Obama goes to Israel» que “Obama pode vir a ser o primeiro presidente em exercício a visitar Israel como turista”.


Conhecida a fraca simpatia de Netanyahu por Obama (não esqueçamos o público apoio à candidatura de Mitt Romney) e excluída a que deveria ser a principal razão para este encontro, há quem nele anteveja uma cimeira de guerra, para cuja justificação poderá não bastar a agudização da crise síria, mas considerando a existência da questão iraniana e a crescente pressão dos grupos próximos de Israel, que justificarão o anúncio de que «Obama confirma” aliança eterna” à chegada a Israel» e pode já estar a frutificar em declarações como a de que a «Decisão sobre o ataque ao Irão é apenas de Israel», ou esta não passar afinal dum alijar de responsabilidades num eventual ataque preventivo israelita.

A posição americana sobre qualquer das três questões já afloradas, o conflito israelo-palestiniano, a situação na Síria ou a questão nuclear iraniana, tem ainda que ser entendida à luz da sua recente reorientação energética; não é pois de estranhar que numa fase em que os EUA estão empenhados em alcançar a auto-suficiência energética, logo numa redução drástica da sua dependência das fontes de hidrocarbonetos do Médio Oriente, a sua posição relativamente àquela região estratégica registe alguma quebra de interesse. Nada que deva preocupar de sobremaneira os amigos israelitas, pois o maior distanciamento dos americanos pode afinal constituir a vantagem decisiva que aqueles esperam e traduzir-se em apoio tácito à política de beligerância tão do agrado dos falcões do Likud (partido conservador israelita, liderado pelo primeiro-ministro Netanyahu).

Pela inversa, a redesenhada reorientação energética dos EUA pode abrir novas perspectivas de “negócios” numa região e numa “commodity” que continuam a ser estratégicos para a maioria dos estados com ambições geopolíticas – sem esquecer o importante projecto de ligação submarina ao largo de Chipre, entre o oleodutos azeri-turco de Baku-Tbilisi-Ceyhan e o israelita de Ashkelon-Eilat (ver a propósito os “posts” «A REALIDADE ALÉM DAQUILO QUE VEMOS», «DUBITANDO AD VERITATEM PARVENIMUS» e «O CARROSSEL SÍRIO») –, facto que ajuda a explicar o anunciado sucesso diplomático da deslocação de Obama através do anúncio de que «Netanyahu pede desculpas a Erdogan por ataque a flotilha de Gaza» enquanto aumenta a importância dos diferentes conflitos regionais (activos e latentes) e nos remete de imediato de volta à crise síria e à controversa crise cipriota, objectos dos “posts” seguintes.

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