sexta-feira, 16 de agosto de 2013

CAMINHOS DE PORTUGAL

A notícia de que «Portugal sai da recessão com crescimento de 1,1% no segundo trimestre» talvez devesse ser acolhida com júbilo, mas quando até a reacção do governo é cuidadosa ao ponto de dizer que «Há “sinais positivos” na economia mas é preciso “prudência”» toda a temperança poderá ser insuficiente para evitar as previsíveis declarações transbordantes de optimismo e de ilusão.



Aliás a simples constatação de que do anunciado crescimento do PIB não resultará mais que uma previsão de que a «Economia deverá cair 1% em 2013 se mantiver actual ritmo de crescimento», justifica que se esqueça qualquer euforia em torno duma notícia que embora positiva se encontra muito longe de sinalizar qualquer real inversão na situação que vivemos, pois até a própria informação do INE refere que o «...Produto Interno Bruto (PIB) registou, em termos homólogos, uma diminuição de 2,0% em volume no 2º trimestre de 2013». Na prática e a atestar pela reacção do PSD lembrando que «“O caminho que temos percorrido é o correcto e está a dar os primeiros resultados”», continuando como se promete a aposta na estratégia da “austeridade expansionista”, o que nos espera é a continuação da degradação das condições de vida, porque na melhor das hipóteses apenas se poderá dizer que «Portugal sai da recessão técnica mas com dificuldades pela frente».

A reacção adequada não pode ser a dos que afirmam as virtualidades da solução que custou, para já, uma recessão que dura há mais de três anos, nem a de quem assegura que o «Chumbo do Constitucional terá puxado pelo PIB» (para refutar esta tese basta lembrar que parte das medidas “chumbadas” foi compensada com outros cortes ou com aumentos de impostos), antes a de demonstrar as limitações da simples observação da evolução do PIB que, enquanto indicador que mede apenas as transacções de bens e serviços, esquece a evolução doutros indicadores como o desemprego – que continua a apresentar valores elevados e cuja ligeira quebra poderá nem sequer representar qualquer criação de emprego, antes o mero efeito do aumento da emigração – ou a pouco animadora evolução da actividade económica, conhecida que foi que a «Produção industrial regista a segunda maior queda na Europa», não devendo assumir isoladamente a importância que tantas vezes lhe querem atribuir.

Mesmo sem querer denegrir a “novidade” do crescimento do PIB, será mais aconselhável escrever como o fez o NEGÓCIOS que a «Recessão acabou mas a retoma ainda não chegou», sem deixar de observar o que na realidade está a acontecer: o aumento do PIB é insuficiente e não representará senão o crescimento dos negócios das grandes empresas.

Na prática, os caminhos que o país trilha não são significativamente piores que os dos nossos parceiros comunitários, onde a par de crescimentos anémicos se assiste à crescente dicotomia entre grandes e pequenas empresas, com as primeiras aumentarem os resultados – geralmente à custa da redução do emprego – e as segundas sem dinâmica e sem contribuírem para o crescimento do emprego. Embora se trate duma situação pontual, não resisto a citar duas notícias recentes do I, que escrevia ontem que «Ex-Scut entraram no verão a perder em média mais de 6700 viaturas por dia», enquanto hoje noticiava que no mesmo universo de empresas a «Receita por carro subiu em média 26% no primeiro semestre», comprovando que a quebra na procura, em resultado da qual seria natural esperar uma redução na receita da ordem dos 8%, foi mais que compensada pelo aumento dos preços, num sector que vive cada vez melhor à sombra da protecção dum Estado que objectivamente optou por proteger os fortes em prejuízo dos fracos.

Assim, quando lerem as manchetes sobre os discursos da “rentrée” política e a renovação das promessas do fim da crise, lembrem-se que esta não tem sido propriamente igual para todos e que mais que o crescimento do PIB ou o pagamento a qualquer preço da dívida o que importa – o que deveria realmente importar – são as pessoas e a forma como lhes está a ser permitido viverem numa economia onde a distribuição da riqueza é cada vez mais desequilibrada.

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