terça-feira, 15 de julho de 2014

BES O QUE FIZESTE?

Não têm faltado notícias nos últimos dias justificando a ligação que há dias estabeleci entre banqueiros e “banksters”, a ponto de se ler que o «BES fez regressar fantasma da crise aos mercados internacionais».

Qual bomba-relógio que pressiona os índices bolsistas em queda e a subida das taxas de juros das dívidas públicas será talvez natural aparecer quem tente explicar «Como a família Espírito Santo abalou as bolsas mundiais», ou que entre comunicados do Banco de Portugal reafirmando que as «"Dúvidas" sobre o grupo Espírito Santo já estão esclarecidas», se tenha dito que o «FMI considera necessárias "medidas correctivas" e "supervisão intrusiva" na banca», tudo pias declarações votadas ao esquecimento logo que o vórtice acalme ou que surja outro epicentro de maior intensidade ou dimensão.


Menos piedosa, para não não dizer manipuladora e manifestamente mal intencionada, foi declaração onde Angela «Merkel usa crise no BES para defender austeridade»; é que embora a afirmação tenha sido produzida para consumo interno da Alemanha (e dos mentores e apoiantes do seu partido, a CDU), a chanceler voltou a demonstrar porque é que tantos a apontam como grande responsável pela degradação da situação económica e social na Europa quando, misturando realidades completamente distintas, da observação dum fruto malsão conclui pela indispensabilidade do abate da árvore, quiçá da totalidade do pomar.

Mesmo longe do epílogo pode já extrair-se uma importante conclusão deste caso: a inépcia, o pânico e a irracionalidade continuam a constituir o essencial do combustível que faz funcionar os mercados de capitais, pois só assim (e o ávido interesse de quem age no mercado segundo estratégias puramente especulativas) se pode compreender como um pequeno problema num grupo de empresas duma das mais insignificantes economias planetárias (segundo dados do FMI o PIB português foi, com cerca de 160 mil milhões de euros, foi o 45º em 2013 e representou cerca de 1,23% do PIB da UE) se veja transformado num grande problema, explicado na imprensa especializada com a afirmação que «Portugal faz tremer Wall Street», quando na realidade o que uma imprensa esclarecedora deveria dizer é que a actual matriz global de desenvolvimento de negócios, baseada na troca de influências e na mais despudorada das promiscuidades entre os poderes económicos e políticos, e a complacência das entidades que pretensamente deveriam regular os mercados e supervisionar actividades como a bancária, está manifestamente desadequada e é perigosamente potenciadora de crises.

Esta confusão é tal que no lugar do piedoso apelo para que «Salvem o BES e deixem cair a família» (ou na cândida, afirmação de Passos Coelho de que os «Contribuintes não podem suportar erros dos bancos», mas não ingénua porque no fundo não garante a protecção dos contribuintes nem a punição dos responsáveis) permanece implícita e inalterável a ideia que aos “banksters” tudo será perdoado, quando o que deveria ser preocupação era a protecção da economia (clientes e trabalhadores do banco) e uma impiedosa punição (social e em sede de Justiça) dos prevaricadores, para que situações como esta não se repetissem.

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