quarta-feira, 20 de abril de 2016

VERGONHOSO ESPECTÁCULO

Domingo foi dia de votar, no Parlamento brasileiro, o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff e depois de outros casos brasileiros, como o de Fernando Collor de Melo (que renunciou antes da votação), ou americanos, como o de Richard Nixon que não resistiu ao escândalo Watergate, seria de esperar que este decorresse dentro da possível normalidade... e que a notícia de que o «Parlamento brasileiro aprova impeachment da Presidente Dilma» representasse afinal o funcionamento da democracia.

Seria, se o caso não estivesse rodeado de mais que uma natural polémica em torno da actuação política de Dilma Rousseff e se aqueles que defendem (justa ou injustamente) o pedido de impeachment representassem valores éticos e políticos superiores aos da visada. Sucede porém que o presidente do Parlamento, Eduardo Cunha, está ele próprio envolvido no escândalo “Lava-Jato” tal como o vice-presidente, Michel Temer, que se prepara para suceder a Dilma embora também já tenha sido alvo de pedido de impeachment semelhante.


Quando o Brasil se debate com uma crise económica declarada, eis que a sua classe política embala sem hesitação em direcção a uma crise política de dimensão ainda difícil de equacionar. Claro que a vaga de escândalos de corrupção envolvendo grandes empresas e membros dos principais partidos políticos em nada contribui para a credibilidade do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, a ponto de haver quem a descreva como uma manobra de encobrimento dos processos judiciais em curso e se aquele pedido vingar no Senado persistirá sempre a dúvida sobre a verdadeira responsabilidade da visada.

O que seguramente não vai deixar de persistir é a imagem duma classe política desgastada, minada pela corrupção e pelo recurso a manobras de bastidores que já levaram a própria Dilma Rousseff a dizer que «"Isso não é impeachment, mas eleição indireta"», agravada ainda pela triste reunião parlamentar, difundida em directo pelas televisões, que justificou perfeitamente o epíteto de «Um vergonhoso espectáculo de hipocrisia».

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