segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

O MUNDO PRECISA DA EUROPA E A EUROPA PRECISARÁ DOS JUNCKERS?


A fechar o ano e segundo uma antiga tradição, esta é a época para fazer o balanço do ano que termina e formular planos e perspectivas para o que se inicia. Para não fugir à regra também o presidente da Comissão Europeia, o luxemburguês Jean-Claude Juncker, aproveitou para dar o seu contributo num artigo intitulado «O mundo precisa da Europa» – que o DN publicou juntamente com outros assinados pelo ex-primeiro ministro britânico, Gordon Brown, pelo galardoado com o prémio Nobel de Economia de 2001, Joseph Stiglitz – e onde a par de afirmações mais ou menos consensuais, como a de que «...a Europa é agora o lugar mais tolerante, livre e igualitário para se viver em qualquer parte do mundo» produz outras que podem ser equiparadas a meras declarações de marketing (para não dizer que absolutamente risíveis), quando assegura que «...a União Europeia (UE) pode proporcionar a estabilidade e a esperança de que o mundo necessita tão desesperadamente...».

No cômputo geral até se poderia deixar passar a leviandade da afirmação que a «...nossa marca de liderança não é sobre pôr a Europa Primeiro», não fosse esta ideia complementada com a jactante afirmação de que ao «...contrário, trata-se de sermos os primeiros a responder ao apelo por uma liderança quando isso é importante», como se a UE pudesse ostentar algum orgulho na liderança que Juncker ou o seu antecessor Durão Barroso imprimiram no Velho Continente.


Graças a eles e às equipas de que se rodearam, a UE e a moeda-única passaram de uma posição de forte concorrência ao omnipotente dólar americano para uma de completa subalternidade; depois de numa primeira fase se terem demarcado dos interesses norte-americanos relativamente ao Iraque, envolveram-se, directa ou indirectamente, em acções militares no Norte África (Líbia) e no Médio Oriente (Síria), quando não contribuíram, por vezes até por mero interesse alemão, para fomentar a instabilidade na fronteira leste da UE (Geórgia e Ucrânia), sem que daí adviessem vantagens palpáveis.

Por fim assegura que a melhor forma de contrariar as tendências nacionalistas passa por «...pôr a nossa própria casa em ordem, particularmente na frente económica, aumentando o investimento através de novas formas de parcerias públicas e privadas...», o que não augura para 2019 e para a UE outra coisa senão a continuação das políticas em prejuízo do interesse geral dos cidadãos europeus, o que me leva a formulara a questão que dá título a este texto: o mundo talvez precise da Europa, mas a Europa é que dispensava seguramente estes “Junckers” que a têm tornado menos democrática e igualitária.

domingo, 23 de dezembro de 2018

SINAIS DOS TEMPOS...



Isto já não é ficção!

A realidade chega bem mais depressa do que muitas vezes se pensa...

domingo, 9 de dezembro de 2018

GILETS JAUNES


Muito se tem escrito nos últimos dias sobre a onda de contestação que assola a França. Despoletado pelo anúncio de mais um aumento da carga fiscal indirecta (subida do imposto sobre os combustíveis) este movimento inorgânico (sem liderança aparente), naturalmente justificado pelo avolumar de situações que há décadas vêm degradando as condições de vida de camadas cada vez maiores de populações – desemprego, baixos salários, reduções nos apoios sociais, subida dos impostos indirectos e descida dos impostos directos, especialmente sobre os grandes rendimentos –, mas sem um programa definido e com objectivos muitas vezes difusos, tem sido muitas vezes comparado ao que há cinquenta anos rebentou nas ruas de Paris. 


O Maio de 68, o movimento estudantil que acabaria numa relativa insignificância logo que foi “tomado” pelas forças políticas organizadas, não será o melhor termo de comparação para o que agora ocorre numa França onde as tendências frontistas – que aqui deve ser entendida no duplo sentido da tradição das frondas (série de guerras civis ocorridas na França em meados do século XVII onde a monarquia se viu confrontada por diversos segmentos da sociedade) e dos apoiantes do Front National, o partido de extrema-direita nacionalista, entretanto renomeado Rassemblement National, dirigido por Marine Le Pen – são amplamente conhecidas. Macron poderá ter sido tentado a repetir a estratégia que permitiu a De Gaulle ultrapassar aquela crise, mas pese embora a costela bonapartista que ambos partilham, não possui a estatura política nem institucional do velho general que, queira-se ou não, ainda representava uma certa França republicana e anti-fascista, mas debate-se agora no labirinto que criou com as frustradas promessas de reformas internas e de uma nova dinâmica europeia e a braços com uma contestação interna que, ao contrário do Maio de 68, regista grandes apoios não só em Paris, mas também noutras cidades como Bordéus, Lyon, Nantes, Avignon, Toulouse, Saint-Étienne ou Marselha.

Humilhado em quase toda a linha, ou não fossem as tais mudanças a simples aplicação da agenda neoliberal e uma reformulação da velha visão europeia, Macron e os seus apoiantes possuem cada vez menos campo de manobra e encontram-se a um passo de escancarar as portas do poder aos seguidores de Le Pen.

Depois dos sans-cullotes que nos finais do século XVIII marcaram a Revolução Francesa, com o que isso significou de mudança de um regime aristocrático para burguês, será que no início do século XX os gilets jaunes irão marcar alguma coisa?

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

REALPOLITIK, POR FAVOR...


As recentes notícias que reportam uma acção militar onde a «Rússia bloqueia portos ucranianos no Mar de Azov», aparentemente surgida na sequência do incidente do fim-de-semana onde «Rússia abre fogo sobre a Marinha da Ucrânia» e apresa três navios, já mereceram reacção do outro lado do Atlântico com a notícia que o presidente «Trump cancela reencontro com Putin por causa... da Ucrânia».


Do lado europeu ouvem-se os tradicionais apelos à contenção e «Berlim propõe mediação franco-alemã para tensão russo-ucraniana no mar de Azov», enquanto a Ucrânia, que ainda recentemente realizou pouco noticiados exercícios militares na costa do Mar de Azov, apela à intervenção da NATO, que em jeito de resposta pede "contenção" à Rússia e abertura à navegação do estreito de Kertch.

Ninguém ignorará que a região é foco de tensão desde 2014, quando na sequência da deposição do presidente pró-russo Viktor Yanukovych a Rússia ocupou a península da Crimeia, mas raramente se referem outras causas para esta situação e que vão desde o facto daquele território ter pertencido à Rússia até 1954, ano em que foi transferido para a Ucrânia por decisão de Nikita Khrushchev, e de nele se encontrar instalada uma base naval russa – Sebastopol –, estratégica e insubstituível por ser a de maior proximidade ao Mediterrâneo e que mantém a operacionalidade durante o Inverno.

Em resumo sendo a Crimeia e Sebastopol tão estratégicas para a Rússia como é o Canal do Panamá para os EUA alguém de bom senso esperará que algum dirigente russo dela abra mão?

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

PERDÕES...


Mesmo sabendo que pode ser invocado o pragmatismo indispensável ao normal funcionamento das relações diplomáticas ou à concretização dos grandes negócios que envolvem o “complexo militar-industrial” norte-americano, não parece de deixar de passar em claro a hipocrisia das declarações de Donald Trump depois que foi conhecido o resultado dum relatório onde a «CIA diz que príncipe saudita mandou matar jornalista Jamal Khashoggi».


Compare-se a declaração onde perante aquele resultado «Trump não exclui envolvimento de príncipe herdeiro mas reitera “relação inabalável”» com aquela outra de George W Bush assegurando que o Iraque de Saddam Hussein possuía armamento de destruição em massa, mesmo contra a opinião dos inspectores da AIEA (Agência Internacional para a Energia Atómica), para concluir que a Verdade só conta se servir os interesses instalados!